O excesso de chuvas nos últimos meses forçou a Companhia Energética de São Paulo (Cesp)  a abrir as comportas da Unisa Hidrelétrica Sérgio Mota, no município de Batayporã, na divisa com São Paulo, e milhares de hectares de pelo menos sete fazendas estão alagados. Ceca de sete mil bovinos tiveram de ser remanejados e em seis destas fazendas só é possível chegar de barco ou trator.

Conforme o coordenador da Defesa Civil de Batayporã, Gilberto Batista dos Santos, cerca de cinco mil destes animais foram transferidos para outras propriedades. Porém, um rebanho com cerca de 2,2 mil vacas parideiras está liberalmente estacionado há semanas numa das principais estradas da região.

Por falta de opção, o proprietário está mantendo os animais no meio da estrada que liga a cidade de Batayporã ao Porto São José (no Rio Paraná). A estrada é o único acesso ao porto e, além do drama da falta de alimentação para o rebanho, a presença do gado está travando o tráfego nesta região.

Conforme o coordenador da Defesa Civil, os alagamentos tiveram início no começo de março e a prefeitura já decretou situação de emergência. Esta não é a primeira vez que fenômeno parecido ocorre. A última vez que teve alagamentos foi em 2015, mas o período de cheia foi menor e a água não subiu tanto, conforme Gilberto.

Cedido para a prefeitura de Batayporã, o coordenador da Defesa Civil é bombeiro de carreia e está na região desde 2006. E, ao longo destes 17 anos não lembra de alagamentos desta dimensão. Ele explica que além do transbordamento do próprio Rio Paraná, a situação piora porque a água do Rio Bahia fica represada e alaga as fazendas que ficam próximas a este curso de água.

E, além dos transtornos enfrentados pelos fazendeiros e moradores destas propriedades rurais, os alagamentos também deixaram isoladas pelo menos sete famílias da região do Porto São José. Crianças estão sem escola porque o ônibus não consegue circular, explica Gilberto.

O comando da Cesp até chegou a informar as autoridades de Batayporã que abriria as comportas, mas depois disso não adotou nenhuma medida para auxiliar os fazendeiros prejudicados e nem informou qual o volume de água que seria liberado e durante quanto tempo.

E, por conta disso, nenhuma medida pode ser adotada preventivamente para reduzir os transtornos. Mas, mesmo que avisos tivessem sido dados, ninguém saberia calcular o tamanho dos alagamentos, já que nunca se liberou tanta água durante um período tão longo.

Por ser a primeira vez que algo desta dimensão ocorre, a Defesa Civil também não tem noção sobre o tempo que levará para que a situação se normalize depois que as comportas forem fechadas. A Cesp enviou nota à prefeitura informando que a vazão nas comportas chegou a 14 mil metros cúbicos por segundo nas semanas iniciais da liberação da água, que ocorreu também nas usinas de Jupiá e Ilha Solteira (rio acima em relação a Porto Primavera).

Nesta semana, porém, a vazão havia sido reduzida gradativamente para 7,5 mil metros cúbicos por segundo, com previsão de novas reduções para os próximos dias. E, de acordo com informações repassadas à Defesa Civil por moradores de fazendas da região, nesta terça-feira foi possível ver um pequeno recuo no nível da água.

O lago de Porto Primavera começou a ser formado em 1998 e somente três anos depois, em meio a uma série de batalhas judiciais para impedir o enchimento, somente três anos depois o processo foi concluído. A última comporta da hidrelétrica Porto Primavera foi ativada em 2003.

O lago é o maior do Brasil e a barragem tem mais dez quilômetros. Foram inundados cerca de 225 mil hectares, sendo 80% disso em Mato Grosso do Sul. Para efeito de Comparação, o lago tem 25 mil hectares a mais que o de Itaipu e com 14 turbinas gera apenas 1.540 megawatts de energia. Itaipu tem 20 turbinas e cada uma gera 700 megawatts. Ou seja, apenas duas turbinas de Itaipu praticamente equivalem à produção de Porto Primavera inteira.

A reportagem do Correio do Estado procurou a assessoria da Cesp por e-mail e por telefone, mas não obteve resposta sobre uma possível data para fechamento das comportas.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO