A possibilidade de registro de casos de vaca louca atípica em Mato Grosso do Sul está descartada.
Quem garante e bate o martelo é o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, ao destacar que o caso noticiado sobre o Pará nem sequer foi confirmado, embora esteja em investigação, de acordo com informações preliminares do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Verruck deixou claro que o que existe é uma possibilidade de identificação atípica, o que afasta por completo as chances de vaca louca “clássica”, como a que foi registrada na Grã-Bretanha durante a década de 1990.
De acordo com Jaime Verruck, pode ocorrer restrição de mercado. “A grande questão é essa. Esse caso não se trata de um problema de sanidade e o Mapa está preparado. A comunicação rápida das análises laboratoriais vai resolver qualquer problema”, tranquilizou Verruck.
O secretário também comentou uma possível reação do mercado e de países compradores. Em 2021, quando casos do mal da vaca louca foram registrados no Brasil, a China restringiu parte das exportações. “Às vezes, a China reage suspendendo exportações, como aconteceu em 2021”, destacou Verruck.
A doença é provocada por príon, que é uma partícula proteica infecciosa e pode ser transmitida, em sua forma clássica, por meio da ingestão de alimentos provenientes de carcaças infectadas, como farinhas feitas de carne ou ossos. Na forma atípica, a doença ocorre por conta de uma mutação espontânea de uma proteína normal.
Em nota, o Mapa informou que “acerca do caso suspeito de encefalopatia espongiforme Bovina [mal da vaca louca] todas as medidas estão sendo adotadas pelos governos. A suspeita já foi submetida à análise laboratorial para a confirmação ou não e, a partir do resultado, serão aplicadas imediatamente as ações cabíveis”.
De concreto mesmo, o que se sabe é que o Mapa investiga a suspeita de vaca louca atípica em um animal “idoso” em um pasto no sul do Pará.
A morte do animal em idade avançada no pasto aumenta as chances de que o suposto caso de vaca louca tenha se originado de forma “atípica”, espontaneamente na natureza, em vez de ser transmitido pela ingestão de ração animal contaminada. Isso, em tese, reduz as chances de imposições de barreiras comerciais.
Os últimos casos de vaca louca registrados no Brasil ocorreram em 2021, em Minas Gerais e em Mato Grosso. Na ocasião, os casos também foram atípicos, mas a China, maior comprador de carne do Brasil, suspendeu a compra de carne bovina brasileira por três meses, de setembro a dezembro daquele ano.
Informações do Mapa mostram que, até hoje, o Brasil não registrou casos clássicos de vaca louca, que são aqueles provocados pela ingestão de carnes e pedaços de ossos contaminados.
O mal da vaca louca é uma doença degenerativa também chamada de encefalite espongiforme bovina. As proteínas modificadas consomem o cérebro do animal, tornando-o comparável a uma esponja. Além de bois e vacas, a doença acomete búfalos, ovelhas e cabras. A ingestão de carne e de subprodutos dos animais contaminados com os príons provoca, nos seres humanos, a encefalopatia espongiforme transmissível.
Repercussão
O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Guilherme Bumlai, ressaltou tratar-se de um caso isolado e sem nenhum risco sanitário.
“O que fica é a preocupação de eventual embargo com viés econômico. Precisamos discutir para que casos isolados e atípicos não sirvam de oportunidades para compradores afetarem os preços”, disse Bumlai.
Para o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Alessandro Coelho, apesar deste caso de vaca louca ser atípico e não gerar riscos, é algo preocupante para os pecuaristas no Brasil todo, tendo em vista a exportação de carne.
“Novamente isso aconteceu em uma rês muito velha, a qual, naturalmente, acaba tendo problemas degenerativos encefálicos. Um exame laboratorial poderá identificá-lo e resolver isso de forma rápida para que nada de resvale no mercado. O Mapa já está tomando todas as medidas sanitárias para evitar maiores transtornos, porém, existem mercados externos que suspendem automaticamente a importação, até que seja devidamente esclarecido”, detalhou Alessandro Coelho.
O Boletim Casa Rural da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul) mostra que na primeira quinzena do ano houve desvalorização do preço da arroba.
O boi gordo foi cotado ao valor médio de R$ 255,38 por arroba, refletindo em queda de 1,74% frente ao valor do início de janeiro de 2023. A arroba da vaca registrou queda de 2,18% e encerrou o período cotada a R$ 238,20.
FONTE: CORREIO DO ESTADO