De acordo com o Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), o bioma permite que o pescador encontre até 386 espécies já catalogadas no Guia Ilustrado dos Peixes do Pantanal. A publicação de novembro de 2022 ainda encontrou 54 espécies até então não relatadas em outros anuários.
Esse contexto bem diversificado representa na potência que a natureza pode exercer e que aparenta, cada vez mais, atrair antigas e novas gerações para pescar. Corumbá, por conta do título de Capital do Pantanal e ter o rio Paraguai a menos de 1 km do centro da cidade, está em busca de consolidar-se como destino dessa diversificação que o mundo da pesca oferece.
Durante este final de semana (4 e 5 de fevereiro), o Festival de Pesca Esportiva no município atraiu 1.137 crianças e adolescentes (6 a 17 anos) e 272 embarcações para a competição adulta. A pesca esportiva (ou pesque-solte) no rio Paraguai foi liberada em 1 de fevereiro, antes do que nos demais rios do Estado.
Nessa competição, houve participantes de diferentes partes de Mato Grosso do Sul, Bolívia e Paraguai. Na categoria infantil, era preciso pagar R$ 20 a inscrição, enquanto no adulto, o valor foi de R$ 350. Como foi competição, os prêmios foram de R$ 2 mil para a equipe adulta campeã até fone de ouvido na categoria infantil.
Houve também sorteio de brindes com um carro 0 km como maior destaque. Na edição do ano passado, participaram 1 mil crianças e adolescentes e 250 embarcações.
A projeção da organização, que envolve a Prefeitura local e a Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo (ACERT), é que haja um engajamento ainda maior e que não foi alcançado, com 1,5 mil jovens e 350 embarcações.
Na família do despachante aduaneiro Wanderley Corrêa da Costa, 57 anos, pescar é uma ação presente em diferentes gerações. Ela foi moldando-se da necessidade de buscar alimento para se transformar em momento de passeio e um maior contato com a natureza.
“Minha mãe vive em fazenda, no Pantanal. Ela sabe pescar, ia pescar para ter alimento. Eu aprendi com ela e hoje tenho um barco e na família a gente tem um material de pesca comunitário, vale uns R$ 900. Não é todo final de semana, mas a gente pega o barco e sobe o rio, passa um tempo pescando. É uma forma de ter esse contato com a natureza e passar um momento com filhos, netos, familiares”, conta.
Ele levou netos e afilhados – Luis Gustavo, 8 anos; Luis Guilherme, 7; e Gabriel, 7; para a competição mirim de pescaria. No domingo (5), foi ele além dos parentes Luís Antonio, 48 anos, e Luis Thiago, 28, para a disputa na categoria adulto. “E tem o pequeno, Luis Henrique, de 4 meses, que ainda vai pescar quando crescer mais um pouquinho”, brinca Wanderley.
O encantamento com o rio, o peixe e a paisagem do Pantanal também motivaram Sofia Santana, 6 anos, para encarar a competição mirim de pesca, mesmo diante de uma forte chuva que caiu em Corumbá durante parte da manhã de sábado (4). “Eu gosto de pescar igual gosto de picolé. Só fiquei com medo da piranha. Se pescasse (uma), ia pedir ajuda para tirar”, descreve a pescadora mirim, que foi pela primeira vez ter contato com a modalidade neste final de semana.
O incentivo veio da tia, a pedagoga Tatiana Cristiana, 26 anos. “Na família do meu esposo, todo mundo vai pescar desde muito tempo. Coisa que o avô fazia, o pai, e assim vai. Minha cunhada insistiu para gente inscrever todo mundo para vir pescar, uma maneira de continuar essa tradição”, conta.
A mãe de Sofia, a recepcionista Claudia Raquel Santana, 33, não é adepta da pescaria, mas gostou de ver a filha no rio Paraguai. “Ela ficou um pouco com medo de entrar no rio, mas participou e gostei disso. É uma forma de ela ter contato com a natureza, de aprender a preservar o Pantanal, não jogar lixo na rua porque vai acabar caindo aqui no rio. O Heitor, de 8 anos, primo da Sofia, também veio.”
Um dos profissionais que montou o regulamento da competição de pesca de Corumbá e integrante de grupo de guias para pesca esportiva no rio Paraguai, Maxwell Antunes aponta que a região entra em roteiro de seletos destinos para a modalidade, junto com a Amazônia e regiões da Argentina, tratando-se de América do Sul. Porém, ainda falta profissionalização de guias específicos, além de adequação em logística e prestação de serviço a esse tipo de turista para consolidar essa ramificação da pesca.
“Para um grupo que a gente chama de velha guarda da pesca aqui atende muito bem. São pessoas que vem há muito tempo pescar, já existe a estrutura para esse público. Agora tem uma outra demanda, de pescadores que investem na modalidade, torna-se um esporte de alto rendimento. É preciso ter qualificação de guias, pousadas para direcionar para esse outro público. Competições como essa em Corumbá ajudam a chamar a atenção e caminhar para novos patamares”, explica.
A velha guarda da pescaria envolve pescadores amadores que buscam barcos-hotéis, pesqueiros e pousadas tanto para o contato com a natureza, como o divertimento com amigos e familiares.
A pesca esportiva de alto rendimento tem particularidades como busca específica por espécies de peixes, conhecimento de iscas artificiais e técnicas para a prática do flying fish (que exige precisão para arremesso da linha).
A equipe que Maxwell integra de guias especializados para a pesca esportiva tem 15 profissionais e, por temporada de pesca, guia em torno de 400 esportistas na região de Corumbá. “A gente recebe mais demanda, mas hoje não conseguimos atender todo mundo. É um trabalho personalizado”, indica o pescador esportivo, que atua também como servidor público e indica que o mercado ainda tem espaço para crescer.
Fonte: Correio do Estado