O titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, confirmou à reportagem que o assunto tem sido pauta desde o início da transição do governo federal.
“Durante o período de transição, eu cheguei a ser acionado pela equipe de transição para discutir exatamente a questão dos fertilizantes no Brasil, mais especificamente sobre essa obra da UFN3. Conversei há poucos dias com a Simone sobre isso, ela que melhor conhece todo o processo, então com certeza terá um papel importante na demonstração, como ministra do Planejamento, da importância estratégica desse ativo para o Brasil”, disse Verruck.
Ainda de acordo com o secretário, não há dúvidas de que o processo vai avançar, o que ainda é incerto é o formato dessa retomada. Com a revogação da privatização da Petrobras, ele frisa que há a possibilidade de a própria estatal finalizar a obra.
“Temos de aguardar fevereiro, quando assumir o novo presidente, para saber se continua a política de desinvestimento de ativos ou se vai se fazer uma opção de a própria Petrobras retomar a área de fertilizantes”.
“Acho que é muito mais uma discussão de qual o modelo que vai ser adotado para que se faça a finalização do que uma situação de não fazê-lo. Volto a dizer que a ministra do Planejamento que define as políticas públicas nacionais, e com certeza vai trabalhar para destravar definitivamente a questão da obra da UFN3”, afirmou Verruck ao Correio do Estado.
HISTÓRICO
A unidade localizada em Três Lagoas começou a ser construída em 2011. Ela integrava um consórcio composto por Galvão Engenharia, Sinopec (estatal chinesa) e Petrobras. Quando foi lançada, a planta estava orçada em R$ 3,9 bilhões.
Os responsáveis pela Galvão Engenharia foram envolvidos em denúncias de corrupção durante a Operação Lava Jato e, com isso, as obras foram paralisadas. Assim, a Petrobras absorveu todo o empreendimento.
Quando as obras foram paralisadas, em dezembro de 2014, a estrutura da indústria estava 81% concluída.
Já o processo de venda teve início em 2018, junto à Araucária Nitrogenados (Ansa), fábrica localizada na Região Metropolitana de Curitiba (PR). A comercialização em conjunto inviabilizou a concretização do negócio.
Em 2019, a gigante russa de fertilizantes Acron havia fechado acordo para a compra da unidade fabril. O principal motivo para que o contrato não fosse firmado na época foi a crise boliviana, que culminou na queda do ex-presidente Evo Morales.
No ano seguinte, em fevereiro, a Petrobras lançou nova oportunidade de venda da UFN3. As tratativas só foram retomadas no início de 2022, com o mesmo grupo russo.
Em 28 de abril de 2022, a Petrobras anunciou em comunicado ao mercado que a transação de venda da fábrica para a Acron não foi concluída.
Conforme publicado pelo Correio do Estado na edição de 21 de fevereiro de 2022, o plano do grupo era “rebaixar” a unidade a uma misturadora, e não manter o projeto original de produzir fertilizantes.
No mês de junho, a Petrobras relançou a venda da fábrica ao mercado.
“O processo deveria ter finalizado em novembro, mas, em função da vitória do presidente Lula, a própria Petrobras tomou a decisão de postergar qualquer venda desse ativo. Nós tínhamos quatro empresas interessadas na aquisição, mas não chegaram a confirmar as propostas porque houve uma postergação para este ano”, explicou o titular da Semadesc.
A unidade foi projetada para consumir diariamente 2,3 milhões de metros cúbicos de gás natural, para fazer a separação e transformar em 3.600 toneladas de ureia e outras 2.200 toneladas de amônia por dia. O empreendimento passou a ser estratégico para ajudar a suprir a demanda por fertilizantes.
“O Brasil tem que buscar a produção de fertilizantes e, nesse caso especificamente, nitrogenados, para que a gente tenha um posicionamento estratégico. Nós temos uma dependência de importação muito grande. Então, eu tenho certeza que a linha da Petrobras vai ser de término dessa obra”, concluiu Verruck.