A partir de 1º de janeiro de 2023, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciará o terceiro mandato como presidente da República. Economistas sul-mato-grossenses elegeram os temas mais desafiadores para o início da nova gestão de Lula, entre eles, controle da inflação, reforma tributária, geração de empregos e qualificação de mão de obra.

Para o economista Eduardo Matos, “a inflação se deve a dois fatores principais: preços externos de materiais essenciais, como petróleo e fertilizantes, ainda em alta, e o outro, que é reflexo disso, são os custos de produção elevados”.

Já o economista Renato Gomes menciona a PEC da Transição, que pode chegar a um total de R$ 162 bilhões se houver aumento de arrecadação. “Mesmo a PEC ficando no patamar de R$ 145 bilhões, essa injeção de dinheiro pode contribuir para a elevação inflacionária”.

O economista Eugênio Pavão destaca que os altos juros no Brasil, exteriorizados pela taxa Selic, mantêm o dinheiro caro, o que provoca menor investimento de empresas.

Ele defende que “o governo federal estimule o crescimento econômico por meio de gastos públicos, aquecendo o consumo para aumentar o Produto Interno Bruto [PIB], além da arrecadação”.

A avaliação do economista Márcio Coutinho é de que o governo que está saindo tem adotado com êxito a política monetária correta, com aumento da taxa de juros para inibir o consumo e conter a inflação.

“O governo do PT é assistencialista e vai gastar muito e, como consequência, vai precisar de dinheiro, o que virá com mais impostos ou empréstimos”.

Já a economista Adriana Mascarenhas foi direta ao afirmar que as medidas tomadas pela equipe de transição geram insegurança, com o furo no teto de gastos.

Neste cenário, ela considera uma missão difícil a contenção da inflação, “principalmente depois da resposta fria do mercado financeiro ao nome de Fernando Haddad como ministro da Fazenda”.

Os cinco economistas foram unânimes na insegurança inicial sobre as medidas do novo governo de combate à inflação. Para todos eles, o caminho é manter os juros altos e frear a inflação com o corte no consumo, o que vem acontecendo.

REFORMA

Quanto à reforma tributária, os cinco economistas informaram que será extremamente necessário fazê-la. Matos reforça que essa reforma é algo que se discute há tempos, e mesmo com muitos estudos ainda não há um consenso.

“O assunto é delicado porque, de um lado, prejudica a arrecadação do Estado, que é inchado e precisa de um grande volume de impostos para se manter, ainda mais em um contexto em que se discute o furo do teto de gastos”, analisa. Por outro lado, diz ele, a alta incidência de tributos prejudica o setor produtivo.

O economista Renato Gomes defende uma simplificação no cálculo de tributos, principalmente para as empresas, mas também para indivíduos.

“Além da simplificação, o excesso de licenças e exigências públicas para se empreender no País acaba por tornar um custo inibitório ao empreendedorismo. Embora não seja uma medida que expressamente envolva diminuição de alíquotas, teria impacto no aumento da oferta agregada do PIB”.

Pavão é enfático ao afirmar que a reforma tributária é um dos principais fatores para modernizar o funcionamento da economia.

“Hoje, por exemplo, a carga tributária é regressiva, ou seja, pune quem ganha menos, e tributa menos os ganhos passivos, que são os dividendos de ações, renda fixa no mercado financeiro, com uma divisão centralizada no governo federal, seguido dos governos estaduais, com baixa participação na repartição do bolo para os municípios. Afinal, as pessoas vivem na cidade e existem os problemas de saúde, educação, segurança”.

Para Coutinho, não dá mais para aumentar a carga tributária, e o caminho é “simplificar a tributação, que, por ser complexa, acaba causando uma distorção na arrecadação, com equalização entre os entes federativos”, avalia.

EMPREGOS

Na questão da qualificação da mão e obra e geração de empregos, os economistas disseram que é necessário manter-se atualizado e sempre se capacitando mais. Matos pontua que o Brasil já está voltando a gerar empregos, porém, em um movimento em direção à ocupação informal.

“O emprego formal só voltará a expandir seu ritmo a partir do momento em que a atividade econômica também sofrer aceleração, junto do aumento do salário pago pelo setor produtivo, que hoje segue abaixo da expectativa da massa de mão de obra”.

O economista Renato Gomes desencavou números e disse que, desde o pico de 15% de desemprego alcançado em 2020, o País vem em uma tendência de queda da taxa, que hoje está perto de 8%.

Para diminuir essa taxa ainda mais, ele ressalta medidas como “diminuição do custo ao empreendedorismo e estabilidade no valor de compra da moeda”.

Esta é uma situação que persiste insolúvel, mesmo com a criação do Plano Real, em maio de 1994, cuja inflação acumulada é de 600%.

“No longo prazo, essa baixa formação de poupança privada, pelo fato de as pessoas serem levadas a se livrar de algo que perde valor, acaba por diminuir a produção da economia”, diz.

Pavão pontua que o estímulo à geração de empregos tem de ser direcionado para setores que absorvem colaboradores.

“Como a construção civil e serviços gerais, além do financiamento de micros, pequenas e médias empresas, que são as maiores geradoras de emprego e renda”, ressalta.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO