Os nascidos no final dos anos 90 estão chegando ao mercado imobiliário com um conceito de moradia distinto do de seus pais. Acostumados a compartilhar suas vidas nas redes sociais, a chamada Geração Z consome experiências.

“As áreas de convivência têm muito peso para eles, é tudo muito social. E há uma fronteira muito menor entre o pessoal e o profissional”, afirma André Kovari, sócio da Vita Urbana.

Apartamentos compactos, bem localizados e com ampla oferta de serviços que trazem praticidade ao dia a dia são o foco desses consumidores que prezam o tempo livre.

“É a infraestrutura da porta do apartamento para fora que conquista esse cliente”, diz Cyro Naufel, diretor de atendimento da imobiliária Lopes.

A demanda básica é por academia, espaços de convivência, de coworking, ambiente ao ar livre, lavanderia e bicicletário.

“O público jovem não quer dirigir. Até 2018, o mercado tinha dúvidas sobre empreendimentos sem vaga na garagem. Hoje, usamos o local onde os carros ficariam estacionados para ampliar a área comum”, diz Fernando Trotta, CEO da Pivô Desenvolvimento Imobiliário. A empresa tem oito empreendimentos em São Paulo sem garagens.

“Essa forma de compartilhar serviços insere as pessoas e barateia o condomínio. O nosso objetivo é moradia a custo zero, com as parcerias cobrindo todos os gastos do condomínio. E temos uma fila de empresas querendo ser integradas”, afirma Alexandre Lafer Frankel, CEO da Housi, plataforma digital de locação.

A fotógrafa Nádia Reis, 28 anos, mora há cerca de dois anos em um apartamento de moradia flexível e usa as áreas comuns também em seus ensaios.

“Fotografo muitos clientes aqui, porque é bem estético. E a praticidade de alugar pelo tempo que eu quiser e sem fiador faz toda a diferença”, diz.

“O apartamento já é completo, não precisei comprar nada, e tenho tudo no prédio: mercado, adega, serviço de faxina que peço pelo app. E todo dia conheço alguém novo no elevador, é o melhor networking”, afirma Nádia.

Investir na compra de um imóvel não é o foco inicial dessa geração, que está no início da carreira profissional. “Os imóveis ficaram menores, mas mais caros”, diz Felipe Santos, da aMora.

“É o público de primeiro imóvel, que faz o que o bolso permite. A opção pelo aluguel é a principal”, afirma Leonardo Azevedo, fundador do Apê 11.

Nascidos conectados à internet, esses jovens recorrem à tecnologia desde a busca pelo imóvel ao delivery de refeição, supermercado e farmácia.

Quase 60% dos consumidores nessa faixa etária buscam o imóvel pelo site Apê 11, segundo pesquisa feita com dados do Google Analitics a pedido da Folha.

“Mais da metade do nosso público está dentro dessa geração e mostra muita habilidade para conhecer o apartamento e apresentar propostas de forma digital”, diz Azevedo.

Recém-chegado no mercado, o aplicativo Ublink permite visitar virtualmente um apartamento “como quem caça Pokemón”, diz Rogério Santos, um dos fundadores.

“Se preferir, no próprio aplicativo pode pedir uma visita presencial. O cliente também pode apresentar oferta online ao proprietário do imóvel e ser informado da chance de a proposta ser aceita”, afirma Santos.

Andressa Gulin, CEO da incorporadora AG7, afirma que esses jovens buscam mais independência e flexibilidade na hora de escolher onde morar. “Muitos novos modelos de negócios de menor custo e maior flexibilidade como locações, residências a service, co-sharing e co-living têm um apelo atrativo para a realidade deles”, afirma.

“Mas uma coisa é um fato: as pessoas entenderam a importância de escolher um lugar para morar e estão dispostas a investir mais nisso em busca de qualidade de vida, bem-estar e saúde física e mental”, diz a executiva.

“O jovem busca facilidade, ele entende que um imóvel grande significa mais trabalho, seja para mobiliar, seja para limpar. Este jovem não possui tanto tempo livre e não dispõe de um funcionário para manter o seu lar. A busca ou se faz por um imóvel menor ou vemos os jovens dividindo apartamento, focados em uso total do imóvel e em valorização do tempo livre”, diz a arquiteta Gabriela Accorsi, do site La Decora.

Para os especialistas, ao contrário da geração dos pais, que buscava um lugar definitivo para morar, acreditando em uma única compra de imóvel durante a vida, a geração atual se importa mais com o que tem próximo à residência e cumpra sua rotina e com áreas comuns que atendam aos seus hábitos.

“Eles querem uma academia boa e confortável, não ligam para uma cozinha super equipada. Estão atentos ao design do prédio, à automação, de olho no moderno e no ‘instagramável’, sem precisar criar raizes”, afirma José Roberto Leite, sócio da incorporadora Next.

Conforto para essa geração é uma mistura de facilidade e senso de pertencimento no local escolhido, segundo a executiva da AG7. “Tem os que gostam de viver no centro porque buscam por diversidade, outros querem viver em um lugar mais antigo, pois buscam nostalgia”, afirma.

Apostando nessa necessidade de pertencimento, a Vita Urbana decorou um de seus imóveis no centro da capital ao estilo Santa Ceciliers. “Compramos todos os objetos do decorado na região da Santa Cecília, decoramos com plantas e até incluímos uma peça em formato de gato para que, quando fossem visitar o empreendimento, esses jovens já se sintam em casa”, conta Kovari.

“São os consumidores do momento. Diversos setores estão prestando atenção a eles e no mercado imobiliário não poderia se diferente”, afirma Naufel.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO