De 17 de outubro de 2021 até a mesma data deste ano, a poupança rendeu 7,299370%. A taxa, pela primeira vez desde agosto de 2020, passou a valer mais do que a inflação nos últimos 12 meses, verificada em 7,17% no Brasil, segundo a última medição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nesse período, a poupança se posicionou como um rendimento competitivo ante outros produtos disponíveis. Papéis como o IPCA+ com um vencimento mais curto apresentaram um rendimento mais interessante, de 8,45%.
Os títulos mais longos, como o IPCA+ com vencimento em 2045, apresentaram retração de 6,14% nos últimos 12 meses.
Os títulos prefixados, mais próximos à dinâmica da poupança, como o Tesouro Prefixado com vencimento em 2023, superaram a poupança, com um rendimento em 12 meses de 8,27%; já no caso do título com vencimento em 2023, o tesouro perde com um rendimento anual de 6%.
No caso do Tesouro Selic, produto que acompanha a variação da taxa básica, em 12 meses, seria de 11,65%, bem acima da rentabilidade da poupança. Se trazidos a taxas reais, com desconto da inflação do período, o reajuste ao poder de compra do investidor seria de apenas 2%.
Segundo o site Status Invest, o Crédito de Depósito Interbancário (CDI) marca rendimento de 10,92% em 12 meses. Dependendo de produtos contratados como Letras de Crédito Agrícola (LCAs) ou Imobiliário (LCIs), é possível ter retorno de até 14% com as taxas atuais, o que traria ganhos reais muito mais interessantes do que os demais produtos.
O doutor em Economia e professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) Mateus Abrita diz que, apesar de positiva, quem pensa no longo prazo deve se afastar da poupança como investimento.
“Se o investidor estiver buscando maior rendimento, você tem muitas outras alternativas, como Tesouro Direto, CDBs, LCAs, LCIs, LCs e diversos outros títulos de renda fixa. Sempre destacando a importância de esses títulos terem proteção do Fundo Garantidor de Crédito para não haver nenhum risco”, afirma.
POSITIVO
O cenário só é vantajoso para os poupadores por causa da retração da inflação. Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou negativo em 0,29% em âmbito nacional e em -0,22% em Campo Grande.
Segundo especialistas, a combinação de inflação alta com juros baixos corroeu o rendimento da poupança. De março de 2021 a agosto deste ano, o Banco Central (BC) elevou a Selic (juros básicos da economia) de 2% para 13,75% ao ano.
Abrita diz que a poupança deve ser um instrumento utilizado em casos específicos. “Agora, ela está com um rendimento superior à inflação no acumulado, mas é muito pouco ainda”, explica.
Eliseu Nantes, assessor de investimentos da Safra Invest, explica que dois fatores principais influenciam na reversão do rendimento negativo da poupança.
O primeiro fator é a deflação no Brasil, que já perdura por três meses seguidos.
“O segundo ponto, e isso é importante também, é que a partir de 8,5% de Selic ao ano automaticamente é disparado um dispositivo que cria um novo cálculo da poupança e remunera a poupança de maneira diferente”, explica.
Dessa forma, a poupança rende 6,17% ao ano mais a Taxa Referencial (TR), que é usada como base para alguns investimentos. Abaixo da marca dos 8,5%, a poupança rende 70% da Selic praticada.
Para o especialista, esse período é bem específico e deve durar alguns meses ainda, principalmente porque a Selic não deve começar a diminuir tão rapidamente.
“Isso porque a gente tem esses dois dispositivos ainda funcionando, a inflação deve continuar diminuindo e a Selic deve se manter. Então, visto esse cenário, a poupança vai continuar superando a inflação nos próximos meses. O que não é ruim. Isso é bom principalmente para aquelas pessoas que não têm acesso ao conhecimento de produtos financeiros”, finaliza Nantes.
SAIBA
Alguns produtos como as LCs imobiliárias e de agronegócio, assim como as debêntures incentivadas e a própria poupança, têm isenção total na incidência de Imposto de Renda. Isso porque esses investimentos são forma de subsídio a setores fundamentais para o desenvolvimento.
A poupança é a principal financiadora do programa Casa Verde Amarela; as LCIs disponibilizam fundos para a construção civil; as LCAs subsidiam o financiamento ao agronegócio; e as debêntures incentivadas aportam fundos a projetos de infraestrutura de empresas privadas considerados chave para a economia nacional.
FONTE: CORREIO DO ESTADO