Motivada pela queda nos preços dos combustíveis, a retração do índice geral da inflação não chegou ao custo de produção da construção civil. Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), aponta inflação de 17,25% no setor nos últimos 12 meses em Campo Grande.
Em comparação com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que caiu 0,39% em agosto, depois de retrair 0,95% em julho, Campo Grande tem 8,73% no acumulado de 12 meses. Isso é quase o dobro do medido pela Sinapi.
Nacionalmente, a queda do IPCA foi de 0,68% na média. Assim como na Capital, a inflação oficial também marca 8,73% no acumulado de 12 meses. Em MS, a variação observada em agosto na comparação com julho foi a segunda maior do País, com 3,71%. No ano, a construção civil já lida com aumento de gastos de 11,53%, contra 4,39% do IPCA oficial.
Nesse sentido, o doutor em economia Michel Constantino diz que percebem-se efeitos na economia para o setor.
“O primeiro foi o desequilíbrio da produção e da logística das cadeias produtivas globais para o fornecimento de matéria prima e de produtos acabados da construção”, comenta.
MATERIAIS
Até mesmo por isso, a inflação de materiais da construção forçou, em grande parte, a alta do custo. Segundo o Sinapi, o custo médio do metro quadrado em MS está em R$ 1.662,59. Isso é 52,45% mais caro do que em agosto de 2019, medido a R$ 1.090,50 pelo IBGE.
Conforme o mestre em economia Eugênio Pavão, o aumento de preços tem relação direta com a pandemia, com a queda na produção industrial e também com a guerra na Ucrânia.
“O impacto na economia real é o atraso em obras e o encarecimento dos preços finais. A alta da inflação fez com que o setor deixasse de utilizar o IGP-M [Índice Geral de Preços – Mercado] como índice de reajustes de aluguéis para definir valores pelo acordo entre as partes”, relembra.
Segundo Constantino, outro fator que puxou os preços para cima foi o aquecimento da demanda, com a mudança de regimes de trabalho e a mobilidade das pessoas.
“Esses dois efeitos fizeram o valor dos imóveis aumentarem exponencialmente, seja pelo aumento de custos seja pela procura maior por residências e condomínios”, resume.
Geraldo Paiva, presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (Secovi-MS), concorda com o especialista e delega essa alta aos baixos valores da taxa de juros praticados em 2021.
“Quando saímos da pandemia, os juros caíram muito, e o que aconteceu foi que o dinheiro aplicado em investimentos financeiros com juros baixos passou a ter rendimento muito baixo. Com esses juros, o dinheiro entrou na construção de obras particulares, e isso aqueceu o mercado”, relata.
Segundo ele, atualmente ainda se vive esse momento de mercado em MS. Com um ciclo mais longo de construção civil, ainda há aquecimento na demanda por mão de obra e várias construções sendo entregues.
“Principalmente por isso, o mercado segue em alta. Isso também acontece com investimentos das grandes construtoras, mas em menor escala”, comenta.
MÃO DE OBRA
Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Mato Grosso do Sul tem 27.915 trabalhadores do setor no mercado formal. De janeiro a julho deste ano, a construção acumula saldo positivo de 5.214 vagas com carteira assinada, resultado de 19.779 contratações e 14.565 demissões.
Paiva ainda diz que a mão de obra disponível está praticamente toda alocada no mercado. Ele tem a percepção que a inflação da mão de obra no Estado é maior que a média nacional.
“Campo Grande está acima da inflação por conta do aquecimento do mercado. O trabalhador tem muitas oportunidades, e se o contratante não pagar um pouco a mais, ele não consegue assegurar o serviço”, revela.
Constantino ressalta que, segundo o indicador econômico que mede a atividade econômica do Banco Central, o IBC-Br, a construção civil continua crescendo e puxando positivamente o PIB. “Esse resultado mostra que o setor ainda não foi impactado pelo aumento da taxa de juros, que influencia diretamente na hora de financiar o imóvel”, analisa.
Para ele, o cenário mais provável é favorável para o setor e deve continuar positivo. “Uma vez que o aumento da taxa de juros foi precificada pelo mercado, estamos vendo uma redução nos preços dos imóveis para equilibrar o aumento no financiamento e continuar com o mercado aquecido”, finaliza.
Pavão é mais cauteloso e diz que o financiamento da construção civil é baseado na poupança.
“Ou seja, os fundos imobiliários e de infraestrutura dependem dessa captação. Hoje, observamos que, apesar de altos, os juros favorecem o investimento financeiro”. Como o valor do crédito é afetado pela alta da Selic, segundo ele, atualmente a taxa básica de juros desestimula empréstimos imobiliários da Caixa Econômica.
O custo nacional da construção, por metro quadrado, foi de R$ 1.661,85 em agosto, sendo R$ 994,67 relativos aos materiais e R$ 667,18 à mão de obra. Em julho, o custo nacional fechou em R$ 1.652,27.
De janeiro a agosto de 2022, os acumulados fecharam em 9,31% (materiais) e 10,38% (mão de obra). Os acumulados em 12 meses ficaram em 14,76% (materiais) e 11,90% (mão de obra), respectivamente.
27.915 trabalhadores formais no setor
Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Mato Grosso do Sul tem 27.915 trabalhadores do setor no mercado formal.
De janeiro a julho deste ano, a construção acumula saldo positivo de 5.214 vagas com carteira assinada, resultado de 19.779 contratações e 14.565 demissões.
FONTE: CORREIO DO ESTADO