Pelo segundo mês consecutivo, a inflação oficial apresentou redução. Em Campo Grande, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu 0,39% em agosto depois de retrair 0,95% em julho. No acumulado do ano, o índice está em 4,24%.

Desde abril e maio de 2020 que o IPCA não apresentava arrefecimento em dois períodos seguidos de observação. Medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação oficial no Brasil também retraiu.

No entanto, a diferença é que o período de 2020 marcou a freada total da economia motivada pelas medidas restritivas de combate à Covid-19.

Em agosto, a queda foi de 0,68% na média nacional, atingindo a marca de 4,39% em 2022. O IPCA brasileiro e o de Campo Grande estão em 8,73% no acumulado de 12 meses, abaixo dos dois dígitos.

Assim, como notada em julho, a deflação em Campo Grande segue sendo puxada pela queda nos combustíveis.

Conforme o doutor em economia Michel Constantino, a deflação de agosto era esperada após os aumentos da taxa Selic, as reduções de impostos e a conjuntura internacional.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa de juros básica da economia, a Selic, teve alta de 0,50 ponto porcentual, atingindo 13,75%.

O relatório ainda abre possibilidade para uma pequena alta na reunião deste mês. O aumento dos juros é uma estratégia do Banco Central para frear a inflação.

Mestre em economia, Eugênio Pavão acredita que é impossível atingir a meta deste ano sem uma deflação caótica.

“A política monetária segue cumprindo seu papel, de reduzir a inflação por meio das altas de juros, com objetivo de reduzir o nível de inflação ao menor nível possível”, analisa.

De acordo com o professor de economia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) Mateus Abrita, o petróleo no mercado internacional segue em queda.

“Os bancos centrais pelo mundo estão subindo juros e existe uma expectativa de uma desaceleração e até mesmo da recessão global”, conjectura.

Constantino é otimista e projeta que o barril da commodity deve continuar baixo ou manter-se baixo. “Assim podemos ver mais redução de combustível”.

A última redução da gasolina foi anunciada pela Petrobras em 1º de setembro. A ocasião foi a quinta queda seguida e retirou R$ 0,25 do litro do preço. De 18 de junho até o começo deste mês, a estatal reduziu R$ 0,78 do preço praticado nas refinarias, retração de 19,21%.

INTERFERÊNCIA

A queda sentida no preço dos combustíveis ainda não chegou aos demais itens medidos pelo IBGE. As quedas na Capital foram registradas nos grupos transportes (-3,99%) e telecomunicações (-0,68%), foram influenciados ainda pelas reduções do Imposto sobre a Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS).

O preço médio da gasolina em MS caiu R$ 1,70, fator que influenciou no IPCA de julho e continuou a ser repassado no indicador de agosto.

A pesquisa mensal apontou queda de 11,07% no subgrupo combustíveis no indicador regional.

Apesar do afrouxamento nesses itens, os demais grupos pesquisados apresentaram alta em agosto. As mais significativas foram percebidas nos grupos de saúde e cuidados pessoais (1,77%), vestuário (1,39%) e educação (1,00%).

Segundo Constantino, nos próximos meses será possível notar redução de outros grupos.

“Principalmente de alimentação. A variação de diminuição deve ser menor, mas vai depender do mercado internacional de petróleo”.

Pavão aponta que Campo Grande segue a tendência nacional de queda e que alguns setores ainda resistem. “Observa-se que os setores que têm alta ou resistência à queda não são afetados pela política econômica”, conclui.

Já a economista Adriana Mascarenhas explica que o subgrupo de combustíveis afeta em grande parte dos demais produtos da economia.

“Como o combustível teve uma retração significativa nos preços, ele contribui para essa projeção de redução do porcentual da nossa taxa inflacionária”.

Para ela, o ideal seria uma redução do óleo diesel também.

“Esse, sim, interferiria em redução de frete, em redução direta no preço de alguns alimentos, inclusive porque a distribuição é feita com caminhão movido a óleo diesel. Mas a redução no valor da gasolina interfere, sim, para reduzir a nossa inflação”, finaliza.

NACIONAL

Em nível nacional, o grupo dos transportes (-3,37%) segue como o principal redutor do índice geral, contribuindo com 0,72 ponto porcentual (p.p.). A queda desse grupo foi influenciada principalmente pela retração nos preços dos combustíveis (-10,82%).

Em agosto, os quatro combustíveis pesquisados tiveram deflação: gás veicular (-2,12%), óleo diesel (-3,76%), etanol (-8,67%) e gasolina (-11,64%).

“Alguns fatores explicam a queda menor em relação a julho, entre eles, a queda menos forte do grupo de transportes em agosto.

Os preços da gasolina, que é o item de maior peso no grupo, tinham caído 15,48% e, em agosto, a retração foi menor [-11,64%]”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

Por outro lado, a alta de 1,31% no grupo de saúde e cuidados pessoais é relacionada aos aumentos dos itens de higiene pessoal (2,71%) e plano de saúde (1,13%).

Já a maior variação positiva no IPCA de agosto veio do grupo vestuário (1,69%), seguindo o observado regionalmente.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO