Com a entrada do mês de setembro, as campanhas eleitorais se desenrolando a todo vapor e a chegada da Copa do Mundo de futebol nos últimos dias do ano, a expectativa econômica causa incertezas, em decorrência dos momentos de alta volatilidade da economia.

Os eventos estimulam o consumo, o que faz a inflação subir, e, consequentemente, os juros continuam na trajetória de alta para frear a escalada do índice.

O Correio do Estado conversou com vários economistas para entender o que se pode esperar do último trimestre do ano e o que esperar de 2022.

Conforme divulgado no último Boletim Focus, a previsão de inflação nacional caiu mais uma vez, de 7,11% do esperado há um mês para 6,61% na divulgação mais atual.

Com a taxa básica de juros, a Selic, ajustada em 13,75% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a expectativa do mercado é de que o indicador esteja no fim do ciclo de alta, pelo menos é o que indicam os relatórios do órgão. A próxima reunião do colegiado deve determinar um reajuste de 0,25% ou manutenção da Selic.

Outro fator positivo é a alta do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em 1,98% anteriormente e corrigido para 2,26%.

De acordo com o professor de Economia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) Mateus Abrita, o que se observa na economia atual é uma queda de braço entre o Banco Central e as medidas econômicas do governo.

“Por um lado, temos um aumento de juros muito forte por parte do Banco Central para esfriar a economia e controlar a inflação. Por outro lado, você tem vários estímulos que foram lançados em um período recente que aquecem a economia”, comenta.

INJEÇÃO

O especialista refere-se aos auxílios lançados pelo governo e que têm duração até dezembro deste ano, como o Auxílio Brasil, no valor de R$ 600; as bolsas caminhoneiro e taxista, no valor de R$ 1.000,00; e a redução de tributos, como a queda total dos valores referentes à União sobre os preços dos combustíveis, com validade para o mesmo período.

Conforme publicado na edição do dia 25 de agosto do Correio do Estado, somente no mês passado, foram injetados R$ 151 milhões na economia de Mato Grosso do Sul, somando os benefícios federais e estaduais.

As reduções permanentes foram determinadas pela promulgação da Lei Complementar nº 194, que reduziu a tarifa estadual do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, transportes, energia elétrica e comunicação.

“A política monetária para chegar à economia real demora, e por um outro lado você tem esses estímulos mais diretos por parte do governo para aquecer a economia”, diz Abrita.

O mestre em Economia Eugênio Pavão explica que a economia cresce em consequência, principalmente, do retorno da população às atividades do dia a dia, ou seja, o crescimento baseado em serviços e também o retorno da indústria servem para explicar o cenário.

“Os benefícios do governo fizeram o consumo voltar, com a queda do preço dos combustíveis e da energia, além dos auxílios, que fizeram retornar gastos e investimentos”, resume.

FUTURO

Ambos os especialistas são cautelosos quanto ao futuro de médio prazo de Mato Grosso do Sul e do Brasil como um todo. De acordo com eles, finalizados os estímulos de curto prazo, pode haver problemas maiores. “Por exemplo, no ano que vem, com as economias mundiais caminhando para uma recessão”, finaliza Abrita.

Pavão classifica esse processo atual como um “voo de galinha”. “Tem duração limitada e demonstra estar à mercê da política e das eleições”.

Para ele, o risco de política fiscal gastadora é até as eleições, e, conforme o resultado eleitoral, deve resultar em “uma política de terra arrasada”, complementa.

Conforme o economista Márcio Coutinho, existe perigo eleitoral caso o candidato vitorioso seja alguém que não passa confiança para o mercado. “Se [o candidato] não proporcionar uma segurança, obviamente saem recursos daqui, com isso, a tendência é de que o dólar aumente e haja impacto também na inflação”, comenta.

Segundo o doutor em Economia Michel Constantino, o País está em uma posição privilegiada, por ter feito o dever de casa antes das demais economias mundiais.

“A economia mundial está desacelerando, por outro lado, a economia brasileira está acelerando, e isso se deve ao momento certo em que o Banco Central começou a elevar o juros, os países europeus e os EUA estão fazendo isso com atraso de seis meses”, conjectura.

Para ele, o fato de o mundo estar desacelerando cria uma dependência do agronegócio brasileiro.

“Seja para alimentação, seja para energia, o que torna nosso país um grande ‘player’ mundial, com vantagem comparativa e principal exportador. Com a guerra da Rússia e da Ucrânia, ficamos ainda mais em evidência, e isso puxou nossa economia para cima”, finaliza.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO