Em um ano, o ânimo do varejo melhorou em Mato Grosso do Sul e tudo foi acompanhado de crescimento para o setor. Conforme divulgado pelas pesquisas mensais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso do Sul apresenta indicadores melhores que as médias nacionais.
Ainda em retomada após a crise desencadeada pela pandemia da Covid-19, os empresários do setor ainda estão aquém das expectativas.
Segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), o Estado teve variação positiva em junho de 2,5% na receita nominal e alta de 2,75% no índice de volume de serviços na comparação com o mês anterior.
No comparativo entre os meses de junho de 2021 e 2022, a receita aumentou 23% e o volume de serviços cresceu 12,7%. No Brasil, o volume de serviços cresceu 0,7% frente a maio, na série com ajuste sazonal.
Já de acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), os indicadores foram mais acanhados para o sexto mês do ano. O volume nominal de vendas subiu 0,4%, enquanto o volume de vendas caiu 0,8% de maio para junho. É a primeira queda depois de quatro altas consecutivas.
Apesar do recuo no mês ante maio, no comparativo interanual houve avanço de 29,3% em relação à receita nominal das vendas e de 9,5% no volume. Nacionalmente, as vendas recuaram 1,4% na passagem de maio para junho.
EMPRESAS
Mesmo com inflação alta e poder econômico combalido, o ano de 2022 se mostrou melhor para a loja Luz Estrela Bijoux, de acordo com a atendente de vendas Lilian Miranda. Ela revela que isso tudo foi graças a estratégias diferentes na condução de vendas.
“Diversificamos os produtos, sempre mantendo em estoque itens que se mostram importantes em algum período, como guarda-chuvas, bolsas de praia, mochilas e outros. Com isso, as vendas seguiram sem muita oscilação durante este ano”, comenta.
A profissional diz que a expectativa é de continuar o ritmo de vendas para os próximos meses e também de olho nos auxílios que devem aquecer o comércio a partir deste mês de agosto.
Outra empresária animada com o último trimestre de 2022 é Karina Santos, proprietária de um salão de depilação na região central. Ela explica que, na época dos auxílios emergenciais, o movimento era forte.
“[A expectativa é] bem positiva. Mesmo com a pandemia ano passado, enquanto o governo pagava auxílios, eu tinha muitos clientes”, ressalta.
Supervisor de vendas da Ótica Diniz, no centro de Campo Grande, Inaldo Martins comenta que este ano superou 2021 até mesmo por conta da retomada da economia.
“O mês de julho é historicamente o pior para nós, então este ano nos preparamos e conseguimos fazê-lo se destacar, mas maio e junho sentimos melhoras significativas em relação a 2021”.
Martins diz que as vendas das lojas que ele supervisiona ainda não atingiram o patamar de 2019, período anterior à pandemia. “Esperávamos um semestre melhor neste começo de ano, mas, mesmo com ações pontuais, deixou a desejar”, revela.
Para o restante do ano, os empresários esperam aumento nas vendas com o pagamento dos auxílios Brasil e a chegada das eleições, que historicamente é um período de aquecimento do comércio, conforme revelado por eles.
ENTIDADES
Presidente da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), Renato Paniago comenta que Mato Grosso do Sul, em especial a Capital, tem tendência em seguir a média nacional para serviços e comércio, no entanto, análise geral que ele faz é de crescimento para os próximos meses.
“Fizemos uma pesquisa de intenção de vendas que mostrou que 20% do empresariado espera vender mais este ano do que em 2021. As empresas precisam trabalhar fortemente para recuperar o prejuízo da pandemia, mas a expectativa é muito boa, há um consumo crescente, as medidas do governo federal têm ajudado muito as empresas”.
Para o dirigente, as medidas de auxílios emergenciais devem injetar recursos e aquecer a atividade do comércio e até mesmo do setor de serviços.
Segundo ele, “as pessoas consumirão artigos essenciais na subsistência, como produtos alimentícios e serviços de saúde, pagarão contas de energia e água, e, consequentemente, terão condições de consumir mais”.
Conforme a economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS), Regiane Dedé de Oliveira, a intenção de consumo dos campo-grandenses e a confiança dos empresários estão melhores no ano de 2022.
“Porém, a intenção de consumo não é satisfatória. O reflexo dos preços mais altos e também das taxas de juros faz com que os consumidores tenham receio em se endividar e não ter condições de pagar”.
CENÁRIO
Conforme o doutor em economia Michel Constantino, mesmo com dados mais fracos, a previsão do varejo é positiva e com estabilidade de crescimento.
“A retomada do comércio é mais cautelosa que a dos serviços, e o ritmo de crescimento deve acelerar mais para o fim do ano, com os eventos festivos e o aumento do consumo”, analisa.
Segundo o professor de economia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) Mateus Abrita, os dados recentes da PMC, que apontam estagnação do comércio na comparação de junho com maio, são resultados de uma tendência inflacionária que prejudica o poder de compra do brasileiro. “Anos consecutivos de inflação elevada diminui a renda disponível”, resume.
Apesar de retração de 0,95% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de Campo Grande em julho e retração na média nacional de 0,68%, a inflação acumulada no período de janeiro de 2020 a julho de 2022 é de 20,52% no Brasil.
O especialista ainda diz que há uma expectativa para os próximos meses se o auxílio Brasil que começa circular com valor mais alto vai reverter essa situação de vendas em baixa.
Segundo Abrita, o setor de serviços foi um dos que mais sofreu com a pandemia, e essa retomada observada nas pesquisas se apresenta com muita importância na geração de empregos.
“Ele [setor] teve uma queda significativa. Ainda estamos observando uma melhora por conta da retomada do turismo, bares e restaurantes, show, atividades culturais e etc.”.
Constantino ressalta que, atualmente, o setor de serviços já superou em 7,5% o patamar pré-pandemia.
“É o setor que mais cresce. Na economia brasileira, ele corresponde a 75% do nosso PIB. Então, o setor é fundamental para o crescimento econômico e mostra que ele vem mais forte do que no período pré-pandemia”, explica.
Esses dados, segundo ele, formalizam que a recuperação econômica agora está em andamento e também antecipa as expectativas de crescimento deste setor, principalmente motivado por investimentos privados.
“Na pandemia, paramos totalmente este setor, agora ele vem com toda força. Isso é importante, porque está muito mais ligado à questão da iniciativa privada. As empresas privadas ligadas a qualquer tipo de interação, aliados a um crescimento muito grande, está trazendo mais emprego e renda para a população”, conclui.
SAIBA
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças de material de construção, o volume de vendas teve alta de 1,2%, se comparado a maio de 2022, e avançou 6,5%, relação a junho do ano anterior. No
ano, o acumulado foi de 6,8% e, nos últimos 12 meses, alta de 7,8%.
FONTE: CORREIO DO ESTADO