Com a alta da taxa básica de juros, a Selic, a renda fixa voltou a ser interessante para os investidores.
Mesmo diante desse cenário, em um ano e meio, o número de investidores pessoas físicas sul-mato-grossenses em produtos negociados pela Bolsa de Valores (B3) aumentou 82,17%, segundo dados da entidade.
Conforme números públicos da B3, divulgados no começo do mês, Mato Grosso do Sul contava com 55.651 pessoas físicas vinculadas à instituição em julho, contra 30.548 investidores no fim de 2020.
Nos sete primeiros meses deste ano, MS ganhou 3.684 novos investidores pessoas físicas, alta de 7,08%. Em dezembro de 2021, a quantidade de investidores era de 51.967.
A alta foi puxada pelas mulheres, que em menos de dois anos aumentaram sua participação em 61% na Bolsa. Em dezembro de 2020 o número era de 7.361, contra 11.853 em julho deste ano.
A inserção de mulheres no mercado ainda corresponde a 21,29% do total de investidores em MS, mas, nos primeiros meses deste ano, a quantidade de mulheres cresceu 9,94%, saltando de 10.781 em dezembro de 2021 para as 11.853 atuais.
Os investidores de MS tinham sob custódia, até julho, R$ 2,48 bilhões, uma média de R$ 44,5 mil por investidor, bem abaixo da média nacional de R$ 89,4 mil, segundo o relatório de mercado XP Monitor da XP Investimentos.
Ainda segundo o boletim, em 2017, a média aportada pelas pessoas físicas era de R$ 267,7 mil por indivíduo. Em cinco anos, a queda média de patrimônio foi de 66,7% para este indicador.
De acordo com o XP Monitor, o número é considerado positivo, pois demonstra a entrada forte do pequeno investidor no mercado de renda variável.
EDUCAÇÃO
Conforme o doutor em Economia Michel Constantino, a atual geração está “amadurecendo” em relação ao mercado de capitais. “As gerações passadas tinham e ainda têm muitos tabus em relação a dinheiro e lucro”.
Constantino relembra o período em que a Selic, a taxa básica de juros, chegou a 2% e, com isso, uma parcela da população passou a procurar ainda mais esse canal de investimento.
“As gerações atuais já evoluíram em estudar educação financeira e investimento. Com maior conhecimento, as pessoas ficam mais seguras para investir”, resume.
O economista Márcio Coutinho diz que, mesmo com as altas, o número de pessoas físicas na Bolsa brasileira ainda é muito pequeno e a melhor alternativa para reverter essa situação é a educação financeira.
“A Bolsa de Valores é um local onde as empresas procuram captar recursos para seus projetos, seus investimentos e, diga-se de passagem, normalmente é mais barato as empresas lançarem ações do que pegarem dinheiro emprestado”, explica.
Ele comenta que as empresas buscam essa alternativa, e, consequentemente, o investidor pessoa física também fica na expectativa de ter um retorno maior do que conseguiria nos investimentos ofertados pelos bancos tradicionais.
“O mercado de renda variável proporciona um resultado maior, mas você corre um risco maior. Porque, como o próprio nome diz, é uma renda variável, você não tem como saber exatamente o que vai acontecer”, afirma Coutinho.
SELIC
Pela 12ª vez consecutiva, a Selic foi elevada pelo Comitê Nacional de Política Monetária (Copom) no início do mês. Conforme publicado na edição de 4 de agosto do Correio do Estado, com o aumento de 0,50 ponto porcentual, o juro básico foi a 13,75% ao ano.
A Selic subiu 11,75 pontos porcentuais desde a mínima histórica de 2,0% – que vigorou até março de 2021. O indicador é utilizado como parâmetro para a manutenção das principais regras de financiamento do País.
Com a taxa em alta, houve um processo de migração para investimentos em renda fixa pré e pós-fixada, como debêntures, Tesouro Direto, Certificado de Depósito Bancário (CDB), Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCA).
O assessor de investimentos da Safra Investimentos Eliseu Nantes explica que, por estarmos no fim de um ciclo de alta de juros, o efeito disso nas aplicações de curto e médio prazo já está muito menor e com tendência de queda.
“Lá em meados de fevereiro e março, a realidade seria outra. Como o mercado financeiro já vai antecipando coisas que acontecerão no futuro, ele já está se comportando a uma série de indicadores que começaram a tentar buscar a normalidade”.
No início houve um fluxo de capital saindo da Bolsa americana e da Bolsa brasileira e indo para a renda fixa.
“Agora já começa a acontecer o contrário. De pouquinho, mas já começa a acontecer. A renda fixa, por conta da Selic, ficou altamente atrativa, ainda está, principalmente a Selic de curto prazo”.
“Eu acredito que agora já é um momento de ficar esperto com a Bolsa, porque você tem muitos ativos baratos”, finaliza Nantes.
PRODUTOS
Os especialistas comentam que o brasileiro ainda cultiva o hábito de colocar o dinheiro considerado “investido” na poupança, mesmo que a taxa de rendimento não seja atrativa.
“Por que o pessoal aplica em poupança? Porque é mais fácil, ficou mais comum, já está na mente do brasileiro que a poupança é segura e [ele] não vai perder dinheiro”, avalia Coutinho.
Somente em 2021, de acordo com o Banco Central do Brasil, mais de R$ 1 trilhão foi aplicado na poupança. Apesar de o mês de julho deste ano ter sido de retiradas da ordem de R$ 12 bilhões, ainda há uma grande quantidade de dinheiro parado nesse ativo, que tem rendimento determinado em 0,5% ao mês mais taxa referencial. Ou seja, o rendimento anual é de 7,13% ao ano, cerca de 0,7121% ao mês.
“A partir do momento que o cidadão tem uma educação maior, ele vai ver que existem mais produtos além da poupança”, diz Coutinho.
O economista ainda comenta sobre o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), utilizado para assegurar investidores em renda fixa que possam passar pela falência de uma instituição financeira. O investidor recebe até R$ 250 mil caso o banco ou a corretora não consiga arcar com os pagamentos combinados.
“Alguns tipos de renda fixa [LCIs, CDBs, LCAs] têm a garantia do FGC. Agora, tratando-se efetivamente de renda variável, aí a pessoa tem que estudar a empresa e avaliar o melhor investimento”, finaliza o economista.
61% de aumento no número de mulheres
Em menos de dois anos, as mulheres sul-mato-grossenses aumentaram sua participação em 61% na Bolsa de Valores. Em dezembro de 2020 o número era de 7.361, contra 11.853 em julho deste ano.
FONTE: CORREIO DO ESTADO