Com investimentos altos e confiança de grandes produtores e processadores de celulose, Mato Grosso do Sul pode se tornar o maior exportador da matéria-prima vegetal do mundo. O anúncio do projeto Sucuriú, da multinacional chilena Arauco, em Inocência, já traz interessados em investir no local.

A cidade de 7.566 habitantes, que fica a 331 km de Campo Grande, já vive a expectativa de receber uma grande obra. A procura por imóveis disparou, segundo o gestor local, e a urbanização da cidade deve acelerar nos próximos anos.

Conforme já publicado pelo Correio do Estado, a empresa chilena Arauco vai investir R$ 15 bilhões na construção de uma processadora de celulose na região do Bolsão. Esse valor deve gerar 12 mil vagas apenas na fase de construção da planta.

O prefeito de Inocência, Antônio Ângelo Garcia dos Santos, o Toninho da Cofapi, afirma que a fábrica é tudo que as pessoas sonhavam. Ele diz que tenta desde 2011, com auxílio da então secretária de Agricultura de Mato Grosso do Sul Tereza Cristina, um empreendimento desse porte.

“Não conseguimos naquela época. Quando retornei, procurei a já ministra Tereza Cristina e começamos a conversar em maio de 2021”.

Ainda segundo ele, desde o anúncio do empreendimento, no mês passado, a cidade começou a mudar.

“O movimento já aumentou, o comércio está vendendo mais, quase não temos mais casas para alugar. Estamos agora nessa corrida, porque temos que preparar Inocência para receber esse pessoal”, afirma.

De acordo com o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, há uma preparação para que a cidade receba a obra.

“A área da Arauco requer em torno de 345 mil hectares plantados de floresta para ser tocada. Hoje essa empresa tem 45 mil hectares, então, o primeiro foco da empresa é a ampliação da base florestal, e isso já se iniciou”.

“Então, já há uma geração de em torno de 200 empregos no município. Isso exatamente na área de plantio”, informa Verruck.

INFRAESTRUTURA

O prefeito do município ainda comenta que é preciso ampliar a infraestrutura para receber a população de fora.

“Já estamos trabalhando com o compromisso de delinear um novo plano diretor. Para esse planejamento, sempre contamos com o apoio do governador, assim como da ex-ministra e do secretário Verruck, que são as pessoas que trabalham conosco desde o começo”.

O titular da Semagro compara a cidade a Ribas do Rio Pardo, que também vive uma transformação com a chegada da planta da Suzano.

“Ribas é uma cidade de 24 mil habitantes, Inocência é uma de oito mil habitantes, sem nenhuma tradição florestal e sem nenhuma tradição industrial. Então, o impacto obviamente vai ser muito maior”, define Verruck.

O doutor em Economia Michel Constantino diz que esse investimento vai mudar a cara das cidades da região dos empreendimentos.

“Isso vai triplicar o número de habitantes dessas cidades, gerar emprego e mudar o cenário produtivo de Mato Grosso do Sul”, resume.

Ele elenca quatro pontos que tornam Inocência a cidade ideal para a empresa chilena: primeiro, por tratar-se de uma região produtora de eucalipto; segundo, o tempo de deslocamento da produção, que atende à logística para os produtos do setor; terceiro, a possibilidade de uso da Malha Oeste para escoar a produção; e, quarto, a possibilidade de uso da Rota Bioceânica para escoar o produto.

“Esses quatro pontos tornam a cidade de Inocência uma cidade estratégica para a Arauco. O município vai se tornar mais rapidamente uma cidade polo de produção de celulose e vai atrair empresas e investimentos para atender às demandas da empresa”, analisa.

O economista Fábio Nogueira diz que, com investimentos desse porte, a tendência é de alto impacto em diversos setores da economia local.

“Como a geração de emprego na fase de construção e, depois, na operacionalização, maior consumo de materiais de construção, geração de renda que fortalece o mercado local, ou seja, na cadeia produtiva e no consumo de energia”, enumera.

URBANIZAÇÃO

O presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (Secovi-MS), Geraldo Paiva, afirma que o destino de Inocência deve ser o mesmo de Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo, uma explosão de desenvolvimento depois da chegada de gigantes do setor.

“A demanda por moradia, por locação de casas e salões comerciais e, sobretudo, por lotes vai aquecer o mercado imobiliário. Eu acredito que a prefeitura deve se preparar para isso, tanto na parte habitacional como na infraestrutura urbana”, salienta.

Segundo Nogueira, além do impacto social, também será notado o impacto tecnológico e educacional, em razão das instalações industriais de grande produção e do impacto ambiental pela base de recursos florestais.

O economista, no entanto, faz uma ressalva para que os projetos sejam planejados, pois essas cidades passarão por grandes mudanças nos próximos cinco anos.

“Os impactos podem ser positivos, mas também podem ser negativos, principalmente no ambiente urbano, caso não tenha um planejamento regional. Isso porque a capacidade de suporte urbano dos municípios não acompanha o ritmo de crescimento populacional, impactando Saúde, Educação, habitação de interesse social e infraestrutura urbana”.

Para o presidente do Secovi-MS, a oportunidade que se apresenta é de evolução e desenvolvimento para a cidade.

“Considero essa uma oportunidade de evolução, a cidade tem a chance de crescer de forma inteligente. É preciso rever as condições urbanísticas – largura de rua, quantidade de lotes e restrições à quantidade de casas por lotes e regiões. Acredito que essa demanda vai ser próxima à de Ribas. Pode ser um lugar de urbanização rápida”, analisa.

Ainda segundo Paiva, Ribas do Rio Pardo, que receberá a fábrica da Suzano, já está atualizando o plano diretor e esse preparando para essa nova fase.

“A prefeitura de Inocência agora precisa se antecipar e pensar em segurança, educação e saúde, porque, em breve, terá mais pessoas usando esses serviços”, aconselha.

Com previsão de início em 2024 e término em 2028, após implantada, a fábrica da Arauco continuará a gerar empregos. Com o empreendimento da Suzano em Ribas do Rio Pardo, já em andamento, Michel Constantino prevê crescimento para MS.

“Minha previsão é de que o PIB do Estado aumente entre 8% e 10% com as duas plantas em funcionamento pleno”.

A estimativa do economista é a mesma noticiada pelo Correio do Estado na edição de ontem, com base nas projeções do governo de Mato Grosso do Sul.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO