A Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores) disse estar “indignada” com o novo aumento do preço do diesel anunciado nesta segunda (9) Petrobras.
O combustível sofrerá um reajuste de 8,87% nas refinarias a partir de terça-feira (10), com o valor do combustível para distribuidoras passando de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro.
Em comunicado à imprensa, o líder dos caminhoneiros Wallace Landim, conhecido como Chorão, apontou que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) e a Petrobras mudaram a estratégia de aumento dos preços: uma semana comunicam reajuste no valor do gás, na outra da gasolina e, por conseguinte, o diesel.
Ao citar a “volta do fantasma da inflação”, Chorão ressalta que, com o novo aumento, a orientação é para que os caminhoneiros também aumentem os valores dos fretes e, concomitantemente, isso impacta no bolso dos consumidores, devido à alta nos preços dos alimentos.
“O fantasma da inflação voltou, quando sobe o diesel, os produtos transportados pelos caminhoneiros vão subir no dia seguinte […] Vou citar o exemplo dos hortifrútis: mudou o preço na bomba, a dona de casa já sente o aumento no dia seguinte na feira livre, e a culpa não é do feirante nem do caminhoneiro, é culpa do PPI (preço de paridade de importação)”, declarou.
O PPI citado por Chorão foi instituído em outubro de 2016, na época do governo de Michel Temer (MDB), quando a Petrobras passou a calcular o preço dos combustíveis com base no mercado internacional e a repassar variações com maior frequência aos consumidores.
Desde então, os combustíveis no Brasil têm acumulado alta real (acima da inflação), enquanto a estatal apresentou na semana passada lucro histórico de R$ 44,5 bilhões em apenas três meses, do qual maior parte vai para os cofres do governo federal, hoje gerido por Bolsonaro.
O PPI é criticado por políticos de esquerda e sindicatos ligados aos trabalhadores da Petrobras. Eles consideram que a paridade internacional serve para garantir lucros dos acionistas, mas despreza a função social da empresa: abastecer a população a preços justos.
Especialistas, porém, afirmam que atrelar os preços ao mercado internacional é a única forma de atrair investimentos e estimular a concorrência interna.
Na semana passada, durante live nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro alertou para o fato de haver uma “convulsão” com novo aumento no preço do diesel. O mandatário fez referência à greve dos caminhoneiros que ocorreu em 2018, sob a gestão Michel Temer, da qual ele foi um dos entusiastas.
Segundo Bolsonaro, o lucro bilionário da Petrobras é um “absurdo” e “um estupro”. Além disso, ele pediu para que a estatal não reajuste os valores dos combustíveis, pois a empresa “deve ter a função social”.
O presidente lembrou ainda da situação de crise econômica, a guerra na Ucrânia, que afeta o preço do barril, e os impostos cobrados sobre os combustíveis como outros fatores para as altas de preço.
AUMENTO A PARTIR DE TERÇA
Por meio de um comunicado divulgado nesta segunda (9), a Petrobras anunciou que o diesel sofrerá reajuste de 8,87% e, a partir de terça, o combustível saltará de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro. O último aumento feito pela estatal foi em 11 de março – na ocasião, o diesel já havia subido 24,9%.
“Esta decisão observou tanto o desalinhamento nos preços quanto a elevada volatilidade no mercado”, afirmou a empresa. “Desde aquela data [11 de março], a Petrobras manteve os seus preços de diesel e gasolina inalterados e reduziu os preços de GLP, observando a dinâmica de mercado de cada produto”, acrescentou.
Segundo a Petrobras, o balanço global de diesel é afetado por uma redução da oferta frente à demanda. “Os estoques globais estão reduzidos e abaixo das mínimas sazonais dos últimos cinco anos nas principais regiões supridoras”, afirma a estatal, acrescentando que a “diferença entre o preço do diesel e o do petróleo nunca esteve tão alta”.
Os preços da gasolina e do GLP – o gás de cozinha, por enquanto estão mantidos.
Em abril, José Mauro Ferreira Coelho tomou posse como o novo presidente da Petrobras, após indicação do governo de Bolsonaro. Seu nome foi aprovado pelo conselho de administração da empresa.
O executivo defende a política de preços da Petrobras, que vincula os combustíveis às cotações do dólar e do petróleo no mercado internacional.
Em outubro do ano passado, pouco antes de deixar o cargo de secretário do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Coelho disse à Agência Brasil que a alta dos combustíveis não é um fenômeno brasileiro, mas uma onda que pegou o mundo todo na retomada da economia após o auge da pandemia do covid-19.
Ele entende que o Brasil precisa acompanhar os preços externos para garantir o abastecimento, já que não refina todo o combustível consumido.
A mudança no comando da empresa aconteceu mais de duas semanas após Bolsonaro decidir demitir o então presidente, general Joaquim Silva e Luna, em meio ao aumento nos preços dos combustíveis.
Foi a segunda troca de chefia da Petrobras durante o governo Bolsonaro. A primeira ocorreu em fevereiro do ano passado, quando o presidente interferiu para tirar Roberto Castello Branco do cargo.
Entre janeiro de 2019 (início do governo Bolsonaro) e março deste ano, a Petrobras já injetou nos cofres federais R$ 447 bilhões, levando-se em conta, além dos dividendos, os impostos e os royalties pagos. Os números constam dos relatórios fiscais da companhia.
O montante pago à União, portanto, corresponde a aproximadamente cinco vezes o orçamento do Auxílio Brasil previsto para este ano, em torno de R$ 89 bilhões.
Segundo levantamento feito pela empresa de informações financeiras Economática, a Petrobras foi a petroleira que registrou, em dólares, o maior lucro líquido no primeiro trimestre no mundo. O lucro da estatal brasileira, de US$ 9,405 bilhões, foi quase o dobro dos US$ 5,480 bilhões registrados pela americana ExxonMobil, a maior petroleira do mundo em valor de mercado.
Fonte: Correio do Estado