Para Bill Gates, que previu o despreparo do mundo para lidar com uma pandemia iminente, a Covid-19 pode ser a última a afligir o planeta. O bilionário cofundador da Microsoft revelou nesta terça-feira (12) uma proposta de criação de uma equipe internacional para detectar surtos antes que se tornem pandemias.
Numa palestra no TED, mesmo espaço onde em 2015 ele alertou para o risco das pandemias, Gates chamou a equipe de GERM, sigla em inglês para “resposta e mobilização global à epidemia”.
O grupo seria formado por 3.000 profissionais de várias áreas, localizados em vários países, respondendo à OMS (Organização Mundial da Saúde) e com um orçamento anual de US$ 1 bilhão (R$ 4,65 bilhões).
“A prioridade do grupo é a prevenção de pandemias”, disse Gates. “GERM é composto por um conjunto diversificado de especialistas (…) epidemiologistas, cientistas de dados, especialistas em logística, e não são apenas científicos e médicos. Eles também precisam ter habilidades de comunicação e diplomacia.”
Gates comparou pandemias a incêndios globais, lembrando de como os primeiros corpos de bombeiros foram criados ainda no Império Romano, com baldes de água de madeira, um dos quais ele trouxe ao palco do TED.
“O imperador Augusto entendeu que indivíduos sozinhos não podem se proteger dos incêndios. Eles precisam de ajuda da comunidade. Quando a casa de uma pessoa está pegando fogo, isso cria um risco para as casas de todos os outros. E o que tivemos nos últimos anos é como um terrível incêndio global”, disse Gates, lembrando que os EUA têm mais de 370 mil bombeiros e mais de 8 milhões de hidrantes.
“Poderia haver períodos sem riscos de surtos, e para manter as habilidades da equipe GERM firmes e fortes, ela trabalharia em outras doenças infecciosas, mas isso seria uma segunda prioridade. Eles trabalhariam com os países para fortalecer seus sistemas de saúde.”
Ao ser questionado pela apresentadora da sessão, Helen Walters, sobre quem financiaria a proposta, Gates explicou que a OMS teria que contar com os governos dos países mais ricos para chegar a um consenso em levantar os fundos.
“A OMS tem uma grande reunião anual, a Assembleia Mundial da Saúde, e em algum momento alguém apresentará uma resolução e veremos se os recursos extras podem ser investidos para isso”, respondeu. “Eu ficaria surpreso se não avançarmos com algo bem próximo do que estou colocando aqui.”
Além do GERM, Gates falou da necessidade de novas ferramentas, como vacinas em adesivos, remédios no formato de inaladores e uma pequena máquina chamada Lumira RX, de baixo custo e que pode diagnosticar diversas doenças.
“Quando olhamos para as vacinas, elas foram o milagre dessa epidemia, salvou milhões de vidas, mas elas podem ser muito melhores”, disse Gates.
“Precisamos incorporar vacinas mais fáceis de administrar que são apenas um adesivo em seu braço ou algo que você inala. Precisamos de vacinas que realmente bloqueiem as infecções, vimos muitas ‘breakthrough infections’ [escape à vacina, quando uma pessoa imunizada tem diagnóstico positivo para a doença].”
O custo será alto, porém Gates acredita que os países irão economizar a longo prazo e diminuir a diferença entre ricos e pobres quando o assunto é saúde. “É como uma apólice de seguro. O custo para evitar a próxima pandemia será de dezenas de bilhões de dólares”, disse.
“Mas vamos comparar isso com o que acabamos de passar: o FMI estima que o Covid custou quase US$ 14 trilhões (R$ 65 trilhões, na cotação atual). Então precisamos gastar bilhões para economizar trilhões.”
A apresentadora do TED também perguntou a Gates como ele se sente sobre os grupos antivacina que espalham notícias falsas sobre imunizantes e sobre sua vida em particular. Um desses grupos fez um pequeno protesto no domingo fora do Centro de Convenções de Vancouver, onde o TED acontece até quinta-feira.
“Bem, é meio estranho”, respondeu, causando risos da plateia. Gates explicou que a fundação que leva seu nome e de sua ex-mulher Melinda está envolvida em vacinas, seja na invenção ou no financiamento, salvando dezenas de milhões de vidas.
“É um tanto irônico alguém dizer que estamos usando vacinas para matar pessoas ou ganhar dinheiro ou que começamos a pandemia. Ou coisas estranhas como, de alguma forma, quero rastrear a localização de indivíduos porque estou profundamente desejoso de saber onde estão todos.”
“Mas, sabe, espero que à medida que a pandemia diminui, as pessoas serão mais racionais e entenderão que vacinas são milagres. E há muito mais que podemos fazer.”
FONTE: CORREIO DO ESTADO