A redução gradativa do auxílio emergencial e a reabertura da economia reduziram as vendas de botijões de gás no Brasil. Com a escalada dos preços em 2022, o mercado teme que o cenário se mantenha, mesmo após a criação do programa Auxílio Gás.
Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), as vendas de botijões de 13 quilos, mais usados em residências, caíram 4,2% em 2021. No primeiro bimestre de 2022, a queda em relação ao mesmo período do ano anterior é de 3,5%.
“Os preços afetaram o consumo”, disse a diretora de Estudos de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Heloísa Borges, em evento da AIGLP (Associação Iberoamericana de Gás Liquefeito de Petróleo), nesta quinta-feira (24).
Considerando todos os tipos de vasilhame e o mercado a granel, as vendas de gás caíram 1,1% em 2021. No primeiro bimestre de 2022, a queda é de 2,2%.
O setor avalia que o mau desempenho reflete o fim do auxílio emergencial pago durante a pandemia, que ajudou os brasileiros de baixa renda a comprar gás, e a reabertura da economia, que reduziu o volume de refeições feitas em domicílio.
“As pessoas passaram a comer mais em restaurante, aumentando a eficiência energética no uso do gás”, diz Sérgio Bandeira de Mello, presidente do Sindigás, o sindicato que reúne as maiores distribuidoras do combustível no país.
Em 2020, com as medidas de restrição à circulação e o apoio financeiro do governo às famílias de baixa renda, as vendas de botijões de 13 quilos cresceram 5,1%.
Além do arrefecimento da pandemia, 2021 foi marcado por uma escalada no preço do botijão, que passou de R$ 69,47 no início de janeiro para R$ 102,28 no fim de dezembro, com repasses de reajustes promovidos pela Petrobras em suas refinarias.
Bandeira de Mello diz que não é possível avaliar qual a influência dos altos preços do botijão sobre o desempenho das vendas durante o ano. Mas teme que a escalada do preço após o início da guerra na Ucrânia possa ter impacto na capacidade de compra pelo consumidor.
O gás de cozinha é considerado um produto inelástico, isto é, cujas vendas têm pouca influência de fatores como preço ou cenário econômico. Mas no patamar atual, diz o presidente do Sindigás, essa situação pode mudar.
Na semana passada, segundo a ANP, o botijão de 13 quilos custou, em média, R$ 112,54, com preço máximo de R$ 160 em Sinop (MT). Com a escalada, os R$ 52 pagos de Auxílio Gás representam hoje uma fatia menor do preço do botijão.
O benefício é pago a cada dois meses a 5,5 milhões de famílias de baixa renda no país. Quando foi instituído, o valor equivalia à metade do preço médio de um botijão, que dura em média dois meses. Assim, a ideia era pagar meio botijão para os beneficiados.
Agora, o valor equivale a cerca de 45% do valor médio. Em Sinop, não garante nem um terço do necessário para comprar um botijão.
O auxílio foi aprovado em meio a um crescimento do uso de lenha, carvão ou resíduos de lixo por famílias que não tinham condições de comprar botijões de gás. Durante a pandemia, o álcool também passou a ser alternativa.
Autor do projeto de lei que criou o Auxílio Gás, o deputado federal Christino Áureo (PP-RJ) diz que prepara projeto ampliando a ação do programa, que custa R$ 1,9 bilhão por ano. Ele defende dobrar o número de beneficiados.
“A população em extrema pobreza já está atendida, mas podemos avançar”, afirmou o parlamentar, também no evento da Aiglp. O aumento, porém, só poderia ocorrer a partir de 2023, já que o orçamento para este ano está definido.
A EPE (Empresa de Pesquisa Energética) espera que, com o programa Auxílio Gás, as vendas se recuperem em 2022, fechando o ano em alta de 0,9%. A estatal, porém, não detalha como se dará esse crescimento por tipo de vasilhame.
No primeiro bimestre, 17% do volume desse combustível consumido no país veio do exterior, percentual menor do que os 30% verificados em 2021.
A EPE espera, porém, que até o fim da década o Brasil se torne autossuficiente, com maior produção a partir do gás natural do pré-sal.
FONTE: CORREIO DO ESTADO