Investir em renda variável pode trazer os melhores retornos, mas, como o próprio nome diz, é possível também ficar refém de variações que podem tirar o sono do investidor. Por isso, além de voltar a ser atrativa com a Selic a 10,75% ao ano, a renda fixa se destaca em meio à instabilidade dos mercados.
O assessor e sócio da FX Investimentos Junior Xavier pontua que, para perfis mais conservadores, uma boa opção pode ser investimento em renda fixa.
Para ele, “há boas oportunidades no mercado, basta o investidor analisar com cuidado”.
Sobre esse perfil, os analistas aconselham a ficar de olho nos títulos públicos atrelados à inflação, especialmente aqueles mais curtos e que oferecem menores riscos.
“A renda fixa está mais atrativa, e esse processo deve ficar mais forte com o reajuste dos combustíveis. Existe uma chance de subir ainda mais os juros, e a renda fixa se valoriza”, explica o professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) Mateus Abrita.
Ela pode ser uma possibilidade de investimento para os próximos meses para aqueles que buscam um pouco mais de proteção. “É importante ter frieza para tomar a decisão e evitar decisões precipitadas e afobadas. É importante conseguir avaliar todos os cenários”, afirma.
Em 2021, a taxa básica de juros, a Selic, saltou de 2% ao ano em fevereiro para 9,25% em dezembro. O mercado vê a taxa básica de juros, hoje em 10,75% ao ano, acima de 13% ao fim do ciclo de alta, podendo chegar a 14%.
E, por conta dessa estimativa, os investimentos em renda fixa voltarão à preferência dos investidores.
A renda fixa tem um indicador padrão de rendimentos, entre as opções, estão os títulos públicos, a caderneta de poupança, o Certificado de Depósito Bancário (CDB) e o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), entre outros.
VARIÁVEL
Em um período de 42 dias, o Ibovespa, índice que representa as principais ações negociadas na Bolsa brasileira (B3), apresentou alta de 12,17%, saindo de 101 mil pontos em 5 de janeiro para 115 mil pontos no dia 16 de fevereiro.
Especialistas afirmam que essa movimentação foi resultado de a bolsa brasileira se apresentar a um preço atrativo no começo do ano. O capital estrangeiro aplicado foi de R$ 58,8 bilhões, até a véspera da invasão russa à Ucrânia.
O conflito trouxe oscilação, mantendo o teto em 115 mil pontos e com resistência na mínima de 111 mil pontos.
Essa deve ser a tônica para os próximos pregões. Lilian Linhares, sócia e head de Alocação da Rio Negro Investimentos, comenta que “a invasão da Ucrânia e as crescentes sanções à Rússia continuam sendo o termômetro dominante dos mercados”.
De acordo com a especialista, caso o conflito perdure, a escalada de aumento nos preços das commodities e da inflação permanece incerta. Isso porque a Rússia tem papel importante nos mercados globais de energia.
Lilian relembra que é difícil saber a hora de entrar ou sair do mercado, principalmente quando se trata de incertezas geopolíticas.
“A história nos ensina que o melhor curso de ação é o da calma, da paciência e da diversificação”.
Xavier relata que o mercado continua com boas oportunidades de entrada. “[Existem] muitas e boas oportunidades de se tornar acionista de grandes empresas”.
Para os investidores que suportam o risco com mais tranquilidade, a alta das commodities pode ser a proteção para as carteiras. Empresas ligadas à produção de aço, exportação de minério de ferro, petróleo e grãos seriam alternativas para o momento. No entanto, a oferta desses produtos no mercado internacional deve trazer grande oscilação aos papéis.
Abrita explica que, com a instabilidade internacional, o volume de investimentos pode fugir de mercados emergentes e mais arriscados para buscar proteção no dólar e nos títulos do Tesouro americano.
Como o mercado brasileiro é dominado por grande produção de commodities, o cenário se mostra um pouco mais interessante para o Brasil.
“Como a região de guerra é de produtores de commodities e grãos, e esses preços têm subido no mercado de grãos, você tem um movimento de investidores estrangeiros que podem encontrar no Brasil um porto seguro para investimentos nesses ativos, já que também somos grandes produtores de commodities”, analisa.
INTERNACIONAL
Para os que querem buscar proteção no dólar, além de empresas nacionais, na B3 é possível encontrar os Certificados de Depósito de Ações (BDRs, na sigla em inglês).
Abrita explica que o “BDR reflete um ativo que está no exterior. É uma forma de ter acesso a um ativo no exterior de forma espelhada”.
Conforme comunicado à imprensa, investidores da B3 passaram a alocar dinheiro no exterior 994% a mais do que em 2020. A pandemia foi o ponto de partida para muitos.
Apesar de se apresentarem como boas alternativas ao investimento no Brasil, o professor Mateus Abrita alerta que os BDRs podem ser alvo de dor de cabeça no curto prazo.
“[O BDR é afetado] pelo comportamento do ativo e do câmbio, no caso do Brasil. Nesse sentido, esse conflito vai afetar muito o ativo que estiver exposto a ele, então, tem que ter muito cuidado nesse momento”.
É o caso de Renan Bezerra, engenheiro florestal que, depois de um período morando no exterior, decidiu manter parte dos investimentos em dólar.
“Dolarizando você tem uma proteção contra a instabilidade do mercado nacional – e é a moeda da maior potência, tende a ter menos oscilações”, justifica.
Sobre o investimento em BDRs, apesar de saber do que se trata, Bezerra prefere a comodidade que a conta no exterior lhe proporciona.
“Nessa corretora [nos EUA], além do meu investimento ser em dólar e o retorno em dólar, tenho mais facilidade para comprar fundos, criptomoedas e ações listadas na Bolsa de Valores americana que não estão aqui na B3”.
INVESTIDORES
Com um perfil mais arrojado e contrariando a dica da diversificação, o engenheiro ambiental Bruno Barbosa revela que segue estratégias de especulação em criptoativos.
Ele conta que, até o momento, não tem outros ativos além das moedas virtuais. “Penso em diversificar a carteria este ano. Tenho planos de montar uma estratégia que contemple FIIs [Fundos de Investimentos Imobiliários] em busca de renda passiva mensal”, projeta.
Os Fundos Imobiliários são investimentos em um setor conservador de imóveis, podendo ser compostos por ativos corporativos, comerciais ou de logística, assim como créditos de recebíveis imobiliários.
Eles se mostram como uma alternativa ao investidor que não tem condições de comprar um imóvel ou não quer se preocupar com a gestão imobiliária e deseja aproveitar a renda de aluguéis.
Commodities oscilam na semana
As oscilações no mercado financeiro também têm impactado os preços que mexem com a vida da população. Soja, milho, petróleo e carnes têm registrado movimento de alta durante os mais de 15 dias de duração do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Os preços da soja e do milho já vinham pressionados pela seca que castigou a América do Sul e, em especial, Mato Grosso do Sul.
Em dezembro de 2021, a saca com 60 kg de soja era comercializada a R$ 166,71 no mercado nacional, há uma semana, o valor era de R$ 203,62 e, no fechamento desta sexta-feira, a saca apresentou queda e foi a R$ 203,15.
A saca de milho custava R$ 84,91, passou a R$ 98,15 na semana passada e fechou esta semana a R$ 103,57 – alta de 5,52% em uma semana.
O barril do petróleo Brent fechou em queda a semana, a US$ 112,67 por barril. Há uma semana, o barril era cotado a US$ 118,11 – em dezembro custava US$ 74,12.
O boi gordo apresentou valorização de R$ 5,85 em uma semana. No dia 4 de março, a arroba era comercializada a R$ 341,15, já nesta sexta-feira o gado passou a R$ 347. Em dezembro passado, a arroba era comercializada a R$ 311,20.
2,06 bilhões de reais
Mato Grosso do Sul tem 52.535 pessoas que investem na Bolsa de Valores – investimento total de R$ 2,06 bilhões.