Com os ataques do governo russo a diferentes regiões da Ucrânia iniciados na madrugada desta quinta-feira (24), o setor econômico mundial entrou em alerta e respingos desse cenário devem atingir Mato Grosso do Sul no período de curto e médio prazo.

O Estado mantém um comércio internacional direto com a área em conflito, principalmente nos setores de celulose, soja, carne bovina e gás natural.

Indiretamente, a extensão dessa guerra pode influenciar no preço futuro de fertilizantes e mexer com a logística na Europa, que é um grande comprador de MS.

O comércio internacional direto com a Rússia está mais ligado à importação de gás natural, que é trazido em meio líquido e processado no Brasil para ser utilizado em indústrias instaladas principalmente em Campo Grande e redondezas.

Essa aquisição é para suprir a demanda que não consegue ser atendida por meio do gasoduto Brasil-Bolívia. Campo Grande é uma das principais cidades do Estado que mantém negócios com os russos.

Em 2021, a importação daquele país representou US$ 34,3 milhões, um aumento de 415% na comparação com o ano anterior. Na lista de produtos dessa balança comercial estavam adubos, aparelhos de circuitos elétricos e gás natural.

Como o conflito está no início, ainda não se sabe quanto tempo as ofensivas vão durar e qual será a dimensão. Essas incertezas são motivos de apreensão.

O titular da Secretaria de Estado de Produção, Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, ressaltou que uma amplitude geopolítica do conflito terá sérios impactos na economia local, caso na disputa haja o envolvimento de outros países.

“A gente tem de tomar um pouco de cuidado e avaliar a dimensão dessa guerra. Pelo que vemos, a situação é grave. A Ucrânia tem pontos estratégicos complexos. Está perto da Rússia, da Europa e da China. A grande questão é saber se será uma guerra de fronteiras entre a Rússia e a Ucrânia ou se vai ter dimensões geopolíticas internacionais”, opinou.

A Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems) informou que, como a disputa começou recentemente, os reflexos diretos não foram sentidos. A relação comercial é pequena com a Ucrânia, e isso gera um cenário menos preocupante.

EFEITOS

O doutor em Economia Michel Constantino pondera que efeitos da guerra vão chegar aos poucos, mas serão notados em diferentes setores.

Ele sinalizou sobre isso ao apontar que a cotação do dólar e o valor do barril de petróleo apresentaram aumento logo nas primeiras horas desta quinta-feira e vão continuar oscilando enquanto o momento for de tensão.

O petróleo foi o que mais sentiu esse cenário, superando os 100 dólares, algo que não acontecia há 7 anos.

“Os primeiros efeitos são uma diminuição da oferta de commodities, principalmente grãos no mundo. Essa diminuição vai alterar os preços para cima. O barril de petróleo vai ter reflexo em médio prazo nos combustíveis, alimentos, fretes e custos de produção”, pontuou.

Ele ainda acrescentou que, para Mato Grosso do Sul, a questão do gás natural é fator de importante acompanhamento, porque a Rússia e a Ucrânia têm participação relevante nesse mercado, apesar de a exportação para o Estado ser em quantidades complementares ao que oferece o gasoduto Brasil-Bolívia.

Segundo ele, o custo para cima de insumos é uma medida que será difícil de frear, repercutindo nos fertilizantes.

Verruck reforçou esse cenário. Segundo ele, a pandemia da Covid-19 desajustou o mercado e uma retomada está sendo iniciada. O conflito surgiu justamente nesse ponto da curva para cima.

“Com a Covid-19, tivemos uma desorganização da cadeia produtiva mundial em questão de fertilizantes, tanto para tempo de entrega como problema de produção. Com isso, os preços subiram”.

“E agora fica a pergunta, será que vamos ter a disponibilidade e o fluxo de exportação normal da Rússia para o Brasil? Eu acredito que não. Podemos ter uma nova elevação de preço”, completa o secretário.

Dólar sobe, Bolsa cai e inflação pode acelerar no Brasil

Conforme adiantou o Correio do Estado na edição de ontem (24), o dólar havia fechado a R$ 5 na cotação de quarta-feira (23), após sequência de quatro quedas consecutivas, e já registrava retração de 10% no ano.

No entanto, após o início da invasão russa à Ucrânia, as bolsas de todo o mundo despencaram e o dólar voltou a subir.

Ao fim do dia, a moeda norte-americana era negociada a R$ 5,10 no fechamento, valorização de 2,02%.

A alta tem relação direta com a busca dos investidores por ativos considerados de menor risco, que pressionou a curva de juros e aumentou a demanda por dólar.

Na máxima do dia, a moeda norte-americana chegou a valer R$ 5,16. Além do dólar, o euro também avançou 1,19% e fechou o dia valendo R$ 5,71.

Os mercados acionários também foram afetados, mas a Bolsa brasileira (B3), apoiada em Nova York, conseguiu aliviar as perdas e fechar em queda de 0,37%, aos 111.591,87 pontos.

Segundo os analistas de mercado, a consequência da invasão para a economia brasileira deve ser o reforço do aumento da inflação e a redução do ritmo de atividade.

Em entrevista ao Estadão, o economista Armando Castelar, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta que as principais preocupações para o Brasil são: o preço do petróleo, dos combustíveis, do trigo, de pão e alimentos, que devem aumentar.

Para o economista, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano deve passar dos atuais 6% para até 6,3%. Já o Produto Interno Bruto (PIB) para 2022, que era de 0,6%, deve recuar para 0,3% a 0,4%.

US$ 100 o barril do petróleo

Sensíveis ao conflito no leste europeu, os contratos de petróleo fecharam em alta, ontem, dia em que as cotações chegaram a ultrapassar o nível de US$ 100 o barril em Londres, pela primeira vez em 7 anos.

O barril do petróleo WTI para abril subiu 0,77%,  a US$ 92,81 em Nova York;  e o Brent para o mesmo mês fechou em alta de 2,31%,  a US$ 99,08 em Londres.

Compra da UFN3

A aquisição da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3) está sendo feita por um grupo russo a partir de negociação com a Petrobras.

Autoridades de MS avaliam que essa aquisição não deve sofrer impacto por causa do conflito. Isso poderia ser perigoso caso a guerra atingisse diretamente o mercado de bancos e o fluxo financeiro de forma global.

 

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO