Como muitos brasileiros, a técnica de enfermagem Joana Gomes, 31 anos, foi contaminada pelo coronavírus no fim de 2021.

Dois meses depois de ter tido a doença, sua rotina foi completamente mudada, com cansaço recorrente, falta de ar, perda de memória e limitações motoras. O caso dela se enquadra no que os especialistas classificam como Covid-19 longa.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o conjunto de sequelas da Covid-19 longa acontece quando os sintomas duram pelo menos quatro semanas após a infecção, chegando até a 12 semanas. Entretanto, há relatos em que as manifestações da doença perduraram por mais de um ano.

“A minha memória foi afetada, não lembrava nem mesmo como fazer um café. Fiquei mais de uma hora olhando para a água no fogão e não sabia o que fazer”, relatou Gomes. A técnica de enfermagem contou, ainda, que não consegue mais fazer atividades que eram corriqueiras e, por essa razão, permanece afastada do trabalho.

No primeiro ano de pandemia de Sars Cov-2, em 2020, as sequelas, como fadiga e perda de concentração, de memória, de olfato e de paladar, eram relacionadas ao contágio pela variante Delta, então em circulação. Com a explosão de casos nos últimos meses, o efeito da variante Ômicron deixou um rastro de pacientes pós-Covid-19 com dores musculares, tosse e intenso cansaço.

“Estou usando nebulímetro [bombinha de asma], não consigo respirar direito, tenho muita tosse, febre recorrente e minha saturação baixa com pequenas caminhadas. Hoje, preciso fazer fisioterapia pulmonar, porque perdi totalmente a força nessa parte do corpo”, disse Joana.

Atualmente, ela permanece em acompanhamento no Centro Especializado em Reabilitação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (CER/Apae).

De acordo com o fisioterapeuta e conselheiro do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito-13), Rodrigo Koch, as sequelas do coronavírus permanecem graves nos pacientes que necessitaram de hospitalização e, principalmente, naqueles que foram submetidos a intubação.

“A duração das sequelas permanece um mistério, por conta da gravidade dos sintomas apresentados, da idade dos pacientes, da presença de outras doenças, do tempo de recuperação e da participação em programas de reabilitação cardiopulmonar e física”, reiterou o fisioterapeuta.

TRATAMENTO

O tratamento dos casos mais severos de Covid-19 não costuma acabar no hospital. Inaugurado em setembro de 2020, o ambulatório pós-Covid-19 do CER/Apae de Campo Grande realiza 350 atendimentos por mês, desde a triagem dos pacientes até as consultas com a equipe multidisciplinar.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), até quinta-feira (10), mais de 1,1 mil pessoas já haviam sido encaminhadas para atendimento na unidade, desde o início desse tipo de acompanhamento.

Os pacientes com sequelas persistentes da Covid-19 são atendidos pela equipe multiprofissional de reabilitação, composta por especialistas em fisioterapia cardiopulmonar, fisioterapia motora, terapia ocupacional, fonoaudiologia, nutrição, psicologia, educação física, enfermagem, fisiatria e cardiologia.

A professora Cláudia Moreira Alves,46 anos, foi acompanhada durante seis meses na instituição, após complicações do contágio pela Covid-19, que ocorreu em dezembro de 2020, quando ainda não havia vacina para a doença.

“Precisei ser internada e, depois, quando retornei para casa, ainda sentia muitas dores no pulmão. Minha memória ficou extremamente prejudicada, muitas coisas eu já não conseguia fazer da mesma forma”, relatou Cláudia.

De acordo com ela, o período de recuperação foi muito difícil, pela perda de oportunidades que as sequelas trouxeram para a sua vida.

“Por conta da minha falta de memória, perdi ofertas de trabalho. Mas, por meio da fisioterapia pulmonar, física e intelectual durante duas vezes na semana, por seis meses, consegui retomar a minha vida, graças a Deus, e hoje eu estou bem, com as três doses da vacina”, salientou a professora.

Conforme a fisioterapeuta e supervisora do setor de fisioterapia do CER/Apae, os pacientes que foram acometidos recentemente pela Covid-19, com a variante Ômicron, estão apresentando sequelas mais leves, como fadiga e cansaço.

“São pacientes a partir dos 30 anos com comorbidades associadas com sintomas persistentes e que não completaram o ciclo vacinal, tomando apenas uma ou duas doses contra a doença”, reiterou.

Avanço da vacinação

De acordo com o infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda, o maior impacto na redução da gravidade dos casos de Covid-19 é resultado da imunidade proporcionada pela vacina contra a doença.

“Sabemos que a vacina protege para a Covid-19 longa e também para as sequelas, mesmo que a pessoa tenha a doença”, afirmou o pesquisador.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO