O gás natural como combustível e propulsor para a instalação industrial em Mato Grosso do Sul encontrou barreiras físicas para avançar no médio prazo. Apesar da demanda gerada localmente, ainda não há condições para que 10 milhões de m³ por dia possam ser distribuídos.

A Bolívia, principal fornecedor, está com limitações de poços para atender à demanda.

A previsão de ampliação da capacidade está prevista apenas para 2024, conforme apurado com autoridades locais. O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) visitará o país vizinho para tentar destravar negociações.

A Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) tem contrato com a Petrobras atualmente para o fornecimento de 20 milhões de m³ por dia. Esse contrato, em alguns momentos, já encontra dificuldade de ser completamente cumprido, por conta da instabilidade no país vizinho.

O gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) tem capacidade de transporte de 30 milhões de m³ por dia, mas, para completar este total, é preciso que o combustível esteja em maior abundância no território vizinho.

A falta de capacidade de atender maior demanda foi repassada ao titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, por empresários de MS.

Algumas empresas em Campo Grande chegam a comprar gás natural da Ucrânia, fazendo a importação de produto líquido.

“Hoje existe mercado livre, e qualquer consumidor pode comprar a molécula e pagar o transportador. O que acontece hoje é que a Bolívia não realizou os investimentos necessários para manutenção de poços e perfuração de novos poços. E ela tem uma dificuldade para aumentar o volume”, indicou o secretário.

ACORDO

A Companhia de Gás do Estado (MSGás) também não conseguiu ainda avançar acordos com a estatal boliviana. A empresa também não oferece ao mercado um dos preços mais competitivos, apesar de estar próxima da exploração.

O preço do gás em MS é mais caro do que nos estados de São Paulo, Bahia, Santa Catarina, Pernambuco, Espírito Santo, Paraíba, Rio de Janeiro e Sergipe, conforme levantamento da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).

A composição do preço final do gás natural para as indústrias envolve três fatores principais, segundo a Abrace: o custo da molécula, que acaba sendo semelhante tanto vindo da Bolívia como do pré-sal; o transporte até o consumidor; e, por fim, o valor cobrado pela distribuidora.

Os bloqueios para o desenvolvimento industrial de MS envolvendo o fornecimento de uma energia com custo atraente entrarão na agenda do governo estadual neste primeiro trimestre.

AGENDA

O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) está com agenda para ser cumprida na Bolívia, viajando com o secretário Jaime Verruck e grupos de empresários para apresentar ao governo vizinho que há demanda para novos negócios. A data dessa visita ainda não foi divulgada.

Essa proximidade comercial e diplomática com a Bolívia está sendo construída de forma mais assertiva neste mês.

O governo estadual, representado por Jaime Verruck, participou de reunião com a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de Santa Cruz de la Sierra, em 27 de janeiro.

O encontro foi feito em Corumbá e serviu para ambos os lados apresentarem potenciais negociações e acordos que podem ser realizados.

A intenção de visitar a Bolívia e manter maior proximidade com a YPFB e o governo de Luis Arce é alinhar políticas de desenvolvimento e reafirmar que Mato Grosso do Sul está com demanda reprimida, com interesse em fechar contratos futuros de fornecimento de gás natural com os bolivianos.

Nessa lista, apresenta-se a empresa chamada Global, que tem sede na Bahia e continua com interesse em instalar termelétrica em Corumbá. Além dela, a Vetorial Siderurgia é outra com interesse em operar seus fornos a partir do gás natural.

“Vários empresários de Mato Grosso do Sul, para participar de leilões, como aqui em Corumbá tem a termelétrica, procuraram a Bolívia, mas eles informaram que só terão condições de fornecer isso [aumentar o fornecimento] em 2024”, reconheceu Jaime Verruck.

A MSGás é outra a salientar que o acesso a tratativas com a YPFB sobre o fornecimento de gás natural passa por grandes dificuldades.

“Há questões comerciais a serem superadas com o país vizinho. Todavia, algumas empresas brasileiras já mantiveram, e outras ainda mantêm, tratativas para aquisição de gás direto da Bolívia. As que não lograram êxito encontraram óbices na oferta e garantia de suprimento”, informou a estatal sul-mato-grossense.

Bolívia explora novos poços

O Correio do Estado apurou que o presidente Luis Arce está ciente dos interesses sul-mato-grossenses no gás natural. Ele disse, no dia 5, que a YPFB obteve êxito na perfuração do poço Margarita, que fica no município de Oruro, sexta cidade mais populosa da Bolívia, entre La Paz e Potosí.

“Com toda segurança, agora posso dizer que este poço tem potencial de produção de 3 milhões de m³ [de gás natural] por dia”, afirmou Arce.

O funcionamento e a exploração do local ocorrem em parceria com a companhia espanhola Repsol. O poço tem previsão de render à Bolívia US$ 260 milhões ao ano.

“YPFB e Repsol estão fazendo os maiores esforços para colocar à disposição dos mercados essa produção no menor espaço de tempo”, disse o presidente da estatal, Armin Dorgathen.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO